Devoção Fingida
Sensação desconfortável causando intensa repulsa é essa que sinto diante da hipocrisia humana. Essa máscara dura feita de pau, cuja coleção enfileira-se mudando feições que são apropriadas para determinadas ocasiões.
Sinto ânsia ao perceber de modo tão evidênte as segundas intenções escondidas por detrás da falsidade... Ou seria o contrário? É falso aquele que aproxima-se sorrateiro e risonho, irradiando admiração e amizade sincera, quando na verdade pretende encurralar-te e sugar-te toda vitalidade e energia.
E me vem súbito o pavor imenso de ver a máscara a cair lentamente, revelando um rosto disforme, pálido e moribundo, arreganhando sua boca torta de tantos dentes que mais parecem garras que brilham umedecidas pela saliva que escorre em gana...
Pois estes caminhantes, vestidos de tantas máscaras que na verdade são lhes esconderijo para a própria negação, possuem olhos vazados e seguem em grutas escuras cujo bolor escorre verde por paredes que criam tremenda escuridão, fazendo com que rastejem lentamente feito cobras, apalpando com as mãos que vagueiam desnorteadas buscando onde escorar-se...
Estes, podam-se a si mesmos a todo instante... São Cristos que negam-se a si mesmos a todo cantar do galo... São a repúdia que apontam e censuram, fazendo-os pintar de negro seus espelhos...
Ah, eu sinto! Sinto uma enjôo repugnante em tentativas de vômitos sufocantes, ao deparar-me com seres fingidos de estrelas, seres fantásticos e míticos, quando na verdade são restos do que um dia foi vivo, perdidos num fundo de poço sem utilidade, de onde fazem escapar suas mãos trêmulas e ressequidas, na tentativa de agarrar qualquer coisa viva que possam tragar.
São Paulo, 17 de Junho de 2009.