FIO DE PRUMO
Esta estrada tem silêncios. Dolorosos silêncios em cada seixo. Cada passagem, Amada, tem um nome de pluma, uma rebeldia que se ajunta como os seixos do caminho.
É diamante o dia vivido. O brilhante lapidado deixará o sol passar e seu brilho me contará quão translúcido é o que por ele podemos ser.
Somos assim meio bruxos em nossos desafios. Cada viagem, estradas, ruelas e seus detalhes se acumulam.
Esta caixa de surpresas pode amanhecer, tardar e nem adormecer. Tudo o que conta é o que de fiéis somos para nós mesmos.
Ainda ontem perdi o fio de prumo. As palavras nem sei se eram como tais.
— Teus olhos são tristes, disse a princesinha. O quê de passagens, pontes e escarpas te fizeram ?
Tudo, tudo vale a pena quando a alma não é pequena, disse Fernando Pessoa, poeta da língua portuguesa e que trafegou como ninguém nestas escarpas.
Sim, tudo vale a pena. O silêncio é um bom motivo pra ficar com os olhos turvos.
E se choro sobre este monstro pensante sobre o qual denuncio a vida, esta máquina que me registra, documentado está que desejo a perenidade dos que se vão, mas permanecem...
Deito em teu colo como quem dorme à sombra. E minha língua sedenta vai contando o que o pote sabe de mim e não de ti.
Não há nada mais sensual que o dia atravessando o quarto e a silhueta desenhada sobre a cama.
O sono amolece e dá a sensação que o mundo vai acabar sem que haja chamas ou trevas.
– Do livro EU MENINO GRANDE, 2006 / 2008.
http://www.recantodasletras.com.br/prosapoetica/164892