EU NÃO ME SEI ESCOLHER

Aquela seta que cai do sentido obrigatório apunhala-me a memória.

Já nem sei se sou eu aqui que me exponho na secura das águas presas na latitude dos teus pólos, ou se estes te inventam em mim sem norte.

A ansiedade já me persegue na sombra descalça das pontes impassíveis sem rios a cobrir.

Carrego sem esperança palavras esquecidas e sem abrigo.

E em cada viagem enfrento a tempestade da voz que me acusa a ingenuidade do crer.

Em cada porto sou um veleiro fantasma no fumo da distância racional das paisagens que procuro. Na fome de sabê-las esventro-as calada e guardo-as no sangue dos tempos.

Onde quer que vá tropeço no agoiro dos meus ossos de vento, mas devoro o medo e engulo as lágrimas.

O caminho é um funil estrangulado onde nem o soluço cabe.

Como atrai o horizonte da verdade que me cortará; como é falsa a guilhotina da justiça que me apagará de vez...

Como é forte o sorriso dos pássaros, que me empurra para dentro de mim, no sentido proibido do esquecimento que me perde...

Eu não me sei escolher...