Fogo Espelhado
Nos desertos de minh´alma escuto sua voz a jorrar ao vento pensamentos que me levam à paisagens menos inóspitas. O outono seco é figura de um passado ainda latente e as montanhas revelam planícies que parecem terem-se perdido nas cavernas de outros tempos.
Sem lago, velejo na lagoa poluída de uma realidade que me parece pouco verossímel. Tempero os peixes que pesco com sal grosso e logo quero o gosto doce de lábios destilados em rituais antropofágicos. Dessa forma, vivo memórias vivas que parecem apodrecer o cotidiano.
Na ausência de mim, o espelho pergunta pela tua face e a resposta que tenho é sempre a mesma: os olhos continuam a transparecer a chama que nem a água das mais geladas cachoeiras conseguiu apagar.