Estação para o inferno

Na estação para o inferno eu espero-te enquanto os anjos das trevas guiam-me por caminhos escorregadios nas escadas do grande portal. No solstício de inverno Bardo prometera-me o caduceu do amor. Ainda sonho pela presença tão bela de Belial a ofuscar-me no perene das horas. Talvez Rimbaud soubesse dizer nas entrelinhas do eterno agora onde se esconde o grande príncipe.

No círculo infinito da eternidade, marcado pelo número zero, decifro teu nome nas cartas do tarot. Ainda almejo a perfeição e por ela eu morro. Na síntese da totalidade do número três procuro pela pirâmide dos mistérios. Onde está você? A matemática do amor calcula no espaço tempo e capta os pequenos sinais.

Tua obra-prima dos deuses a consumir em meu ventre, rasgando-me feito diamante. O filho que eu carrego, tão imortal quanto você, meu príncipe negro, anjo da morte. Ele nascerá sob o signo da lua nessas escadas para o inferno onde os anjos se encarregaram de velar.

É tempo de Vênus e a meia-noite na janela do paraíso infernal o sangue irá jorrar de meu peito, quando a lança do cupido atravessar o âmago. Vinde a mim estrelas de Lúcifer. Desejo o brilho do grande astro da manhã nessa terra de dor e de guerras. Quero o amor em sua essência.

O inferno particular reside em cada um de nós. Aqui onde eu vivo não existe dor e lamúrias. O inferno é o paraíso e as minhas lágrimas irão despertar-te sorrisos. Caminho nua pelas brasas acesas e não me queimo. As tuas imensas asas brancas me guardam. Só sinto alegria e cheiro de rosas frescas no ar.

Oh inferno e anjos do fogo! Guardem-me através da luz que me guia nesse lugar, suprindo-me infinita; através dos portais, raios e tempestades. Libertem minha estrada do desejo. No acaso das horas insanas, quero caminhar pelos abismos celestiais que me levarão a profundas e místicas paixões.

Alta madrugada. Meia lua no céu. Meu corpo nu espera por ti nas escadas, exalando a doce fantasia do desejo. As ninfas e os sátiros me acompanham. É noite de Sabat Yule. Rasga-me inteira. Atravessa-me com tuas flechas, no fulgor das horas encantadas, enquanto inspiro o prazer divino dos deuses. Entretanto, por hora você se demora e na ausência dos instantes, acendo um cigarro na estação para o inferno. E espero-te, oh príncipe das trevas.

Verônica Partinski
Enviado por Verônica Partinski em 13/06/2009
Reeditado em 16/06/2009
Código do texto: T1647728
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.