A dor ideal da poesia
E preciso sentir uma dor imensa
Pra fazer poema de riso e não chorar
Esta dor há de ser tão profunda
Que ninguém poderá ver-te ao luar
Está alem dos delírios dos profetas
Dos desejos dos mudos de cantar
Esta dor é tudo que eu espero
Para um verso perfeito rascunhar
Já tentei com as dores da saudade
Com a febre de não me apaixonar
É a dor que lateja em Florbela
Lamento que viveu sem revelar
É à sombra de uma vida bela,
Poesia do mestre do alem mar
É da alma que brota este abismo
Como um sol brilhante a faiscar
Não existe um sentimento certo
Que produza a angústia do criar
É sujeito ao homem que se perde
Nas confusas estradas do sonhar
Querer ser poeta e ao mesmo tempo
Ser a voz do mundo e se calar
Esta dor que almejo é como éter
Um espasmo, um céu a trovejar.