A dor ideal da poesia

E preciso sentir uma dor imensa

Pra fazer poema de riso e não chorar

Esta dor há de ser tão profunda

Que ninguém poderá ver-te ao luar

Está alem dos delírios dos profetas

Dos desejos dos mudos de cantar

Esta dor é tudo que eu espero

Para um verso perfeito rascunhar

Já tentei com as dores da saudade

Com a febre de não me apaixonar

É a dor que lateja em Florbela

Lamento que viveu sem revelar

É à sombra de uma vida bela,

Poesia do mestre do alem mar

É da alma que brota este abismo

Como um sol brilhante a faiscar

Não existe um sentimento certo

Que produza a angústia do criar

É sujeito ao homem que se perde

Nas confusas estradas do sonhar

Querer ser poeta e ao mesmo tempo

Ser a voz do mundo e se calar

Esta dor que almejo é como éter

Um espasmo, um céu a trovejar.

Evan do Carmo
Enviado por Evan do Carmo em 13/06/2009
Reeditado em 13/06/2009
Código do texto: T1646601