Rio das Flores, flashs de Outrora


Infância , infância querida,
Você foi tão pequena!
Mas soma a maior
Parte de minha vida!

Você se foi cedo,
Passastes correndo!
Deixando saudades!
Hoje, resta o medo!

Quando menina,
Temia assombração,
Hoje, convivo
Com o bicho papão!

Ah! Se fosse possível
Voltar àquela vida pacata,
Sentada na praça
Sem em nada pensar!

Até que vinha um matuto
Interromper, o nada a fazer!
Ei Marcia, ei Myria.....Oiiiiiii!
Era o Jairinho, meio gordinho
Apressado! Sempre apavorado!

Der repente saíamos correndo!
Lá vinha o cachorro da carroça!
Astuto em frente ao cavalo,
Cachorro maluco, latia e mordia
A primeira perna que via!

Depois que ele ia embora,
Tudo sempre na mesma hora!
Voltávamos ao banco da praça
Achando em tudo muita graça!

Lá vem os Monteiros!
Ei seu Pedrinho, ei dona Neusa, ei meninas!
Eram seis, falavam as mesmas coisas
Repetindo um de cada vez
Falavam em coro,
Tudo muito bem afinado!
Como se fora ensaiado!

Saiam da farmácia
E iam tomar cachaça
No bar dos mijoes!
Nesta mesma praça!

Os mijoes eram dois casais de irmãos!
Apenas três se via!
Pois o outro, quando via gente, fugia!

Verdadeiros bichos, inocentes,
Não falavam com ninguém na cidade!
Não tinham vaidade!
Causando ao povo rancor!
Apenas por nós tinham puro amor!

Riam por timidez,
Apenas para agradar o freguês
Falavam enrolados,
De cabeça baixa ,
Rindo sem a menor graça!

Ao lado morava o seu Ventuíu
Que certa vez desesperado
Procurou meu pai apavorado
Por uma cápsula de Tetrex
Que sua mãe engoliu!
Coitado, pensara que era
o vidro inteiro de remédio
que a velha tivesse tomado!
Ele era casado com uma senhora
Que mais parecia mãe do que nora!
Sua mãe fazia a previsão do tempo
Sem nenhum instrumento!
Apenas com o conhecimento!

Mais adiante morava Dna Júlia treme- treme
Parecia uma bruxa,
Encardida e gorducha,
Tinha um odor forte!
Fazendo-me lembrar a morte!

Acho que era irmã do Arão
Um pobre homem aleijadinho
Que andava numa carroça
Puxada por dois carneirinhos!

Tinha o bar do Sinval!
Em frente à mercearia da Maria,
A sapataria do Juvenal,
Não me lembro ao certo
Acho que era Antonio Marilú
Namorado da Dú!
Que me chamava de Mixuruca!

Osvaldo, o visitante,
Bonitão e elegante, meio careca
Alegrava-me, com seu ar de sapeca!
Procurava-me, me dava presentes!
Dizia: Chicletes não! Faz mal aos dentes!
Dizia me namorar!
Eu acreditava!
Eu com apenas quatro anos, o amava!

Tinham tantas outras criaturas,
Queridas caricaturas!
Que hoje relembro,
Com muita ternura!

Vivo hoje um passado presente!
Lembranças vivas dessa gente!
Enriquecendo minha história!
Marcadas em minha memória!


Marcia Motta