Os Óculos no Meio do Salão
A cada dia que passa eu me sinto roubado!
Perdí um fio de cabelo: Envelhecí um pouco!
É menos um fio de cabelo. Um fio aquí, outro fio alí, e acabo
ficando careca. E careca não deve usar óculos.
Se cair os dentes, aí é que não deve usar mesmo!
Não fui planejado para viver assim. Seria um insulto!
A vista está enfraquecendo, mas eu tenho óculos.
Substitui razoavelmente. É como se a vida me roubasse os olhos,
e me emprestasse esta muleta horrível.
Daí que eu imagino desesperado: E se eu dançar com este óculos,
e dar uma fungada no cangote da dançarina, e
ele enroscar nos cabelos dela, e cair no meio do salão?
Quem vai livrar a cara dos meus oculos no salão?
A quem interessa um óculos solitário, procurando os meus olhos,
torturados pela hipermetropia?
Como nos enxergaremos se eu não o tenho, e ele não tem a minha
cara, que é a sua razão de ser?
Ou " raison d'etre " dos existencialistas franceses, tambem míopes?
E como parar a orquestra, se os casais dançam, compassados e
descompassadamente " La Cumparsita " naquele imenso salão?
Pobre dos meus óculos, debaixo daquelas saias das dançarinas de
tango, sem os meus olhos para apreciarem aquelas coxas
monumentais, e as calcinhas roçando de um lado para outro,
o "sol da terra!".
Ò raios e trovões da minha vida, porque não desenvolvi o terceiro
ôlho, tão decantado pelos místicos orientais?
Porque a catarata e a fotofobia,
e estes dois olhos indecentes, bailando,
entre a remela e a miopia?
Porque eu não consigo explicar meus óculos, enquanto o Fróide,
explica "A origem das espécies", o " Bagavá-Guita " , e as
" Odes de Anacreonte " - E o tamanho do grêlo da pitonisa do
" Oráculo de Cumas " - Que enganou Ânius com uma espiga de trigo
no meio das pernas? - Ainda a relevância do Cú cabeludo, nos
bacanais da antiguidade?
Pôra, pôra, pôra, pôra, pôra ......... Pôrrrrrrrrrrrrraaaaaaaaaa!!!!!!!
( O outro R estava preso na garganta - Fraqueza na traquéia! ).
Eu estou largando meus pedaços pelo caminho,
Ninguém percebeu?
Ainda bem!!!!!!