Cena 5 Tomada 8
Fale. Não importa, não adianta, não vou prestar atenção. Talvez a culpa seja das suas sobrancelhas... ou eu que não consigo desligar o meu sensor de detalhes. Bem, agora você já falou. E certamente espera uma opinião. E eu não posso dizer que não lembro do que foi dito. Estou preso em mim mesmo. Não sei se isso é bom ou ruim.
Respondo algo insípido, neutro, banal; no entanto tento transmitir segurança em minhas expressões, gestos, tom de voz...
Acho que deu certo.
Ou não: você parece ter levado muito a sério a bobagem que falei. Não sei se isso é...
“Vamos para um lugar mais desinibidor” é a solução aparente. Seremos transparentes?
“‘Isso’ é um lugar desinibidor?” Não importa agora; vamos retornar ao assunto (algum de nós está bem perturbado). Fale.
Fale. Não importa, não adianta, não vou prestar atenção: há uma coceira na minha sobrancelha. Há um brilho singular no seu olho... e ele (o brilho ou/e o olho) parece me dizer mais coisas que todas as gaguejadas palavras... diga!
(silêncio)
(totalidade)
(intensidade)
(sem comentários)
Não sei o que pensar (ele vai embora devagar, meio trôpego). Impressão de que estão nos filmando. Personagens de um livro em branco?