fragmentos do instante

fragmentos do instante:

(para se ler aos poucos)

2.

...o meu fingimento é que eu não sou fingida, sou uma realidade que se prefere não acreditar.

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3.

...hoje eu estava com uma vontade de morrer que só você vendo...

Mas estou tão resignada e tão revoltada assim de um jeito como quem se esvoaça no vento que pensei: eu não me acabo hoje. Aos fragmentos!

(um instante a vida - em estantes - e isso que vai bastando)

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4.

...me acordei manhãzinha e continuei de olhos fechados sentindo tudo. Sentindo o que vivi no sonho, e o sonho vivendo a mim.

Espero um pouco até a luz atravessar as pálpebras como quem vai se adaptando ao ambiente, à atmosfera nova, à luz, ao dia... como quem vê os estilhaços de luz em texturas nas paredes de uma caverna, o sonho da realidade. Abro os olhos, curiosa eu. (Receio de que os estilhaços cortem minha face). Aproximação: é preciso tocar a luz para saber que a concretude está neste instante.

Luz baça, sonho e realidade ainda se misturam na aurora, nova forma de um instante de hora, dúvida e surpresa...de horizonte que ainda não se deu totalmente. E como que em prece peço:

Eu quero o belo!

Como quem implora pela verdade mesmo que a vida toda fique ardendo.

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5.

Eu gostaria de saber passar por esse circo dando gargalhadas o tempo todo, mas às vezes, meu palhaço é triste.

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6.

,vontade, vontade mesmo de deitar no teu peito, você respirando... respirando de modo que até faça levantar e abaixar a minha cabeça, eu respirando à você no mesmo ritmo e movimento diferente, como se viesse de um a respiração do outro. E, dormir na quentura do teu abraço. De repente isso me pareceu uma geometria de corpos cansados.

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7.

Eu procuro. Procuro mansamente mas com uma ferocidade de sentidos, de quem se debate na areia movediça (e se afunda ainda mais?). E quem procura é porque ainda tem esperança?

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8.

...toco a fosforescência-do-mar ao fundo e trago à superfície quando a influência da lua enche a maré dos poros e me ondula a carne...

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9.

Recebo o presente sem nem esperar. O presente é sempre de surpresa, de supetão como uma coisa enrodilhada que de repente nasce, um ser oculto, uma coisa que aparece na sua essência. Aceitar o presente é uma estranheza acostumada, uma alegria besta.

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10.

O presente também é uma cilada. Acordo com uma ingenuidade tão enraizada que queria fosse salva (salva de mim?), uma ingenuidade de crer no próximo instante. Os olhos ardem com a luz mais nova do dia e eu vou me aprumando, me acordando com uma malícia que dá gosto, que dá novas formas... finjo que a vida - a realidade - é pura arte!

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11.

Isso é que é lançar-se num abismo sem nem pensar, isso que é a loucura do amor.

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12.

me sinto grávida do instante

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13.

Cortar, afastar, separar também pode ser um gesto de amor.

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14.

o deus me destila

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Alessandra Espínola
Enviado por Alessandra Espínola em 08/06/2009
Reeditado em 10/06/2009
Código do texto: T1638422