AQUI ESTOU

AQUI ESTOU

A manhã apodreceu...a tarde apodreceu...

Restou a noite com seus sabores e cheiros acentuados pela proximidade do fim.

A luz é tênue, mas, alumia. O odor vem da vida resgatada, esperada, não vivida. Acontece então uma volta aos lugares caminhados ao alvorecer, agora recaminhados ao anoitecer. Volta pelas pegadas que resistiram ao tempo e aos encontros e desencontros. Volta para rever cantos e recantos, sentir novamente emoções que não estancaram apesar da pele sem viço e dos cabelos brancos. A alma continua intacta, a paixão continua intacta, os versos, intactos, tudo resistiu ao tempo, às intempéries e às dores e amores.

E...adolesci, rí do nada e do quase nada, do tudo. Me banhei em qualquer àgua, rolei nas areias finas que me chamavam, escalei àrvores só com os olhos, vivi amores impossíveis e deixei que a paixão escondida queimasse meu corpo sem vergonha. Colhi beneditas e até paqueviras...pra que viras? Parei em qualquer beira, por qualquer coisa, ou por nada. Me encantei com o mar como se o visse pela primeira vez. Estendi as maõs em concha às mangabeiras cheias de frutos, me lambuzei com elas. Me inebriei com o cheiro dos cajueiros em flor e junto com suas flores, engolí todo seu néctar.

Volto ao real e descubro que quero viver o muito que ainda tenho , no pouco qua ainda me resta. Mas, sei que ainda terei uma enormidade de caminhos a serem percorridos, uma enormidade de afetos a serem cultivados, e, por isso, aquí estou.