Em quem você aposta? (Um alicerce para que minha vida não cesse)
Um alicerce para que minha vida não cesse,
como uma roupa surrada degastada pela ação do tempo,
os lençois alvos secando nas janelas antigas, como uma espécie
de bandeira que emite páz para os transeuntes da calçada.
E a senhora lei descansando de pernas pro ar na cadeira do tribunal de alçada.
Enquanto isso eu vejo as três pernas do relogio aleijado mancando pelas veredas do aro do tempo, com uma perna menor que a outra e a outra bem fina, numa correria danada.
Mas mesmo assim os relógios são mais bem dispostos que a maioria de nós que temos as pernas iguais.
Dentro da engrenagem a bateria, dentro da carapaça o coração.
Um alicerce para que minha vida não cesse,
Como a última pedra do jogo de damas.
Encoste a cabeça no travesseiro e pense numa corrida do tempo;
Você com suas duas pernas perfeitas e de tamanhos iguais movido a coração, contra o relógio aleijado e suas pernas defeituosas movido a batéria.
Em quem você aposta?
As vezes perdemos a corrida contra nós mesmos por modismos ou acomodações, e infelizmente só depois que perdemos... aprendemos a dá mais valor do que quando ganhamos, não no sentido material, mas no sentido da essência.