O sertão é belo
O bom da vida é parar um momento para observar as flores. Não só a elas, mas ao belo que nos cerca. Aqui até se poderia frisar o que vem a ser o belo. No entanto, como se pode fazer uso de ideias que envolvem o pensar se a mente está vazia, perdida no tom das flores? Neste exato momento, uma abelha está polinizando uma flor de crista-de-galo. As pétalas enamoraram-se e sorriem à manhã que nasce.
Aqui, debaixo desta faveira em que estou sentada numa pedra, os pardais anunciam em seu canto que vai chover logo mais. E como não sou entendida em pássaros, não tenho como dizer o nome de um “majestoso” que caminha a alguns centímetros próximo a mim. Porte de canário, mas de cabeça branca, penas pretas, faceiro e olhar agitado. Eu até não comentaria dele se um beija-flor não tivesse me dito do alto da faveira que o esplêndido é admirar a manhã sem necessitar nomear seus tons.
Então, o vento veio brincar nos matos rasteiros e meus olhos se deliciaram: flores azuis coloriam o capim verde! Em duas pétalas apenas, a beleza da vida! Em formato de coração, beijavam o meu, já aberto à manhã e vão em duo caminhando silenciosamente até a última fibra de meu peito enternecido com a aquarela da natureza.
E se alongo os olhos, deixo o castanho de eles viajarem por entre os mandacarus na caatinga que se estende além da cerca de minha casa. Há frutos vermelhos nos galhos. E estou no fogo da paixão. A alma geme e sente um prazer tão intenso como a me dizer que o belo é notar as flores de meu sertão.