Real ou imaginário?

REAL OU IMAGINÁRIO?

Meus olhos se fecham e tudo acontece...estou num barco pequeno, frágil, mal o vejo. E, ele qual mariposa, singra o mar, lépido, transparente, translúcido. O pavor à água, inexiste. Vejo as ondas antes tão temidas, num quebrar incessante, no seu murmurar permanente, mas, nada me detém. Sinto-me maior, com licença total para a vida, desconheço a ditadura das horas, dos dias, dos anos, me desconheço. E, vago, vago, vago...

Olho para o lado, vejo um mar de flores, conchas, sargaços, como numa exposição de jóias marinhas. Tudo à minha mão, tudo pronto à meu toque, à minha posse. Estendo o braço, me jogo sobre elas, mas, nada. Estão estagnadas, e, resistem à meu apelo, à meu desejo de te-las, de possui-las. Em vão tento apreende-las, mas, continuo sem elas, isso me esvasia, me anula, me faz impotente diante do querer e não poder.

À minha frente, vislumbro um rosto, mas será o meu, o espelho da água, estará me devolvendo minha imagem? De repente, a visão, ou eu, parte-se em mil pedaços, esfacela-se...desintegra-se...

Mas, tudo muda, mudo. O mar some, sumo. Sucumbo como uma árvore ao ódio dos homens, como um girassol ao cair da noite, como um lírio do pântano, que não foi colhido, recolhido.

Adentro a um túnel e sinto uma calma enorme, plena. E...amo.

Amo um amor indefinido, sem rosto, sem corpo, sem vida. Triste como o voo das gaivotas, ou o cair da tarde na solidão completa. Sinto-me como quem esgota todos os afetos não dados, todas as histórias não vividas...

E, como se fechasse um ciclo, como um carroucel que estancasse ao fim da corrida sem fim...vivencio sensações embriagadoras, sentimentos embriagadores, vida embriagadora, mas, acordo, tudo foi apenas um sonho, ou não?