MÃE ROCEIRA
Autor: Samuel Moscospki
Mãe roceira foi minha mãe!
Que sempre viveu na roça e que dentro de sua pobreza e de seu corpo frágil de mulher conseguia carregar todo amor do mundo em seu pequeno coração.
Que trazia o M de mulher e o M de mãe junto aos calos de suas mãos, conseguidos junto ao eito, pelo cabo da enxada e do enxadão, para que aos seus filhos nunca faltasse o pedaço de pão.
Que levantava antes do galo cantar para acender o fogão de lenha e preparar o caldeirãozinho de comida que o meu pai levava para a roça como seu almoço.
Que rezava ajoelhada aos pés da imagem da Virgem Maria para que nada lhes faltasse em dia algum e ela tinha certeza plena de que “a outra Mãe ouvia”.
Que trazia no seu olhar de compaixão toda a pureza de sua humildade.
Que não se envergonhava de suas rugas e nem de sua pobreza. Nem mesmo dos remendos das suas roupas onde mal se conseguia reconhecer o seu verdadeiro tecido.
Que se mostrava ser a maior artista equilibrando seu feixe de lenha sobre o coque em cima de sua cabeça.
E quando a tarde levava o dia, trazia em seu rosto incansável de mãe, o sorriso mais lindo do mundo.
E nas noites, antes de rezar o terço, se transformava na mais ilustre e sábia das mulheres, fazendo do mundo um livro aberto, onde as lições eram decoradas com a palavra educação em seu sentido pleno.
Hoje, ela não nos reconhece e nem sabe mais quem sou.
Mas eu te digo, minha mãe: você é a minha mãe, mãe da minha vida, do meu coração e não precisa nunca mais ter medo, pois cuidarei sempre de você, como um dia também de mim cuidou!
(publicada no livro "Para Minha Mãe 2" - Editora In House - pg 96/97- Maio de 2009)