Margem

Envolve a noite e a estrada, a noite,

quem com os dedos escreve nas placas um destino qualquer, este trajecto onde

cai a luz pelas margens. Ao meu lado passa a sombra do que ficou, a névoa

entre lagos – um espelho quando alvorecer. E podia ser para norte ou para sul, na direcção da realidade no asfalto. Um traço contínuo ladeado por jardins suspensos, os ulmeiros ficam mais atrás à velocidade dos faróis acesos. E a noite continua, ninguém aparece ao encontro da paisagem ou uma cidade a que quisesse perguntar o nome. A álea dos ciprestes, símbolo da eternidade que o mundo não sabe, me grava a memória deste lugar que passou. Mais à frente, a outra noite desponta pelas fendas do futuro. Outra margem - a uma distância qualquer.

Vou demasiado rápido. Começa a chuva a entrar pelos vidros, em coágulos me desperta o frio líquido. A linha deserta alcatroada na penumbra desaparece - depois, aquela forma subtil de perder a visão numa curva. Pelo túnel da névoa como quem desce ao desconhecido das pálpebras. Será a angústia anónima deste lugar.

Escrevo com palavras breves na pele, um fio roxo tinge a noite: o futuro é demasiado rápido e a qualquer hora.

Estaremos nos jardins suspensos ou com os lábios colados ao vidro, talvez. Correr pelos lagos antes da aurora. Aquém da curva de asfalto ondulado.

Escrevo com palavras breves na pele, um fio roxo tinge a noite: o futuro é demasiado rápido e a qualquer hora.