Frágil algodão

E se de repente não houvesse um futuro? E se as correntes que me atam se desatassem sem medo? Se o ar se tornasse pesado, as horas incontáveis, num bailar desprovido de sentido. Perder-me, perder-me na certeza de não querer, na exigência de possuir o que me limita. Preciso sentir que nada do que tenho me satisfaz, nada possuo que me ate. Nada a não ser a minha depressão. Esse buraco tão pequeno, mas onde cabem tantas chagas que não curam. Ferida aberta há tantos anos. Curou tanto quanto foi capaz. Desejo fazer. Não o posso. Mas desejo tanto fazê-lo. Necessito tanto.

Agarrar-me a algo que me mande de volta o sangue que parou, desejar sentir que a vida vale por uns momentos, contemplar o lado colorido. Experimentar…

Por que me retiram as coisas de embaixo dos pés? Por que te apegas deste modo às coisas? Pensas que faz sentido? Pensas que te faz feliz? Por que procuras em outrem a chave? Por que buscas em outrem as respostas que não és capaz de conseguir?

Por que pensas que os outros te apreciam? Por que permitir que o façam? Melancólicos pedaços de uma vida. Mal fadados pedaços de um sentimento. Nada do que se sinto é verdade. Não sou verdade. Sou o sonho feito pesadelo de manhã transpirada de um anoitecer não adormecido. Não consigo aceitar a mim. Não posso dar-te a mim. Lágrimas que não correm, sentimentos que não desejariam que fossem, pernicioso! Pavor, dúvida, receio…delírio! E se vos tivesse possibilidade de extinguir?

Raios, raios, raios… raios de um temporal há muito divulgado, chuva de uma tempestade ocasionada. Brados que despedaçam o silêncio. Silêncio que derrota a trovoada, a ventania! Ventania que passa, ventania que arrasta, ventania que…

A voz ressoa, perdida no centro do monstro, perdida como sempre, fraca! Grosseiramente fraca! Combate! Não te permitas levar como uma estúpida folha de uma estúpida árvore estupidamente despojada delas! Brada mais alto, supera!

A tua condição é frágil algodão. Tão facilmente desfeito, tão irrefletidamente sujo….por que te trais desta maneira? Por que te sujeitas de maneira tão fácil? Por que não aguardas que a ventania sopre mais fraca? Por que esperas que o universo te recompense com a mesma intensidade aquilo que lhe cedes? Por que não aprendes? Ainda não aprendeste? Ainda não ficaste sem chão, vezes o bastante? Ainda não te sentiste em aflição extrema vezes o suficiente? Porque perseveras? É engano? É desejo? É…É…

É crônica de um sentimento anunciado, é sentimento de uma condenação protelada, é adiamento de uma sensação desejada, é desejo de uma libertação essencial, é exigência de um toque efêmero, é passagem de uma eternidade oprimida…

Tatiane Gorska
Enviado por Tatiane Gorska em 05/06/2009
Código do texto: T1633942
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.