TRISTE LEI DA SEMEADURA

Família reunida ao redor da mesa, como sempre. Não fosse um ato desmedido e insano.

Ali estavam: marido, mulher, criança de cinco e o vovô, bem velhinho.

Pele castigada pela ação do tempo, mãos calejadas por sua labuta como construtor de casas. Por ironia do destino, a casa na qual morava havia sido construída por ele, com muito sacrifício. Muitas renúncias...quantos passeios não realizou, roupas que não comprou, presentes que não deu, moedas e mais moedas que juntou...

Lágrimas saltavam dos olhos, todas as vezes que se reuniam. O que deveria ser prazeroso, tornou-se o mais cruel de todos os seus lamentos.

Aos seus 80 anos, sofrendo do Mal de Parkinson, mãos trêmulas, sem equilíbrio ao segurar talheres e copos. O inevitável acontecia: mesa e arredores ficavam imundas. Roupas trocadas o dia inteiro.Que trabalho!

Não queria ser um ''peso'' aos seus familiares, porém, por questões de sobrevivência ali estava ele.

Numa destas ocasiões, ao se repetirem os fatos, a esposa de seu filho, aos berros, reclama:

- Não aguento mais esta situação, dê um ''jeito'' em teu pai. Senão terás de escolher entre mim e ele. E sem conversa, até que tomes providências!!

O marido, sem pestanejar, pensar duas vezes, raciocinar ao menos em sua vida, como seria sem a dedicação de seu pai, agora velho, toma uma decisão inusitada: fez uma caixinha de madeira, e no dia seguinte, colocou a alimentação de seu pai dentro e o levou à hora da refeição para a àrea de serviços da casa.Ali seria seu local de alimentação,todos os dias.

Sua esposa era só alegria. Seu pai puro desgosto e tristeza, sentia-se pior que o cachorro da casa. Jamais imaginou passar por isto! Solidão, abandono, desprezo, ingratidão...

Mal podia imaginar que seu filho, de apenas cinco anos, estava atento a tudo. Vendo como a família se comportava, teve uma idéia mirabolante.

Quando chegou do trabalho, ouviu um barulho de martelo nos fundos da casa e pra lá dirigiu-se, apressadamente.

Impressionado com a cena, desfaz-se em elogios ao pequeno artista:

- Filho, estou perplexo por tua obra de arte! Que caixinha linda! Quem será o felizardo contemplado com isto? Estou orgulhoso de ti!

O menino ergue os olhos. Tão serenos, de uma inocência angelical, e empolgadamente responde:

- Papai, isto é pra ti! Estou preparando pra quando envelheceres, que possas comer assim como fizeste com o vovô!! Gostou?

‘’Tudo o que o homem plantar, isto também ceifará.’’

O que tens plantado?

Alessandra Borges
Enviado por Alessandra Borges em 04/06/2009
Código do texto: T1632168
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