A insanidade

Não conseguir fazer mais que renunciar...

Não conseguir me erguer deste chão maldito e bradar por independência.

Deixar. Deixar que me olhem como quem enxerga aquilo que ama, aquilo que detesta. Deixar que me falem de sentimentos quando disso entendem escassamente. Permitir-me permanecer por não ter força para exercer reação.

Mas sei que esta força permanece em mim. Tenho de a chamar em meu socorro: "Vem até mim! Vem até quem tão arrebatadamente te invoca!"

Desejo sentir-me solta. Livre daquilo a que, de modo estúpido, me prendo…asfixiantes mentiras, inúteis pensamentos, perniciosos sonhos.

Semper Fidelis a mim, sou o bem que procuram, o mal que ocultam, o amor que enxergam, a ira que contradizem. Simplesmente sou. Sou o passado. Jamais serei o presente e o futuro. A minha sede de viver é contraditória à minha vontade de fuga...INSANIDADE. Admiro-te, insanidade.

Elogio-te, madrinha dos meus desvarios, mãe de cada um dos meus sentimentos, insanidade. Não sou mais do que insanidade. Insanidade por mim, por ti, por ele, por ela, pelo universo, pelo... Insanidade. A ti consinto, contigo desejo partir do tumulto.

Insanos? Não. Os insanos não te amam. São abandonados. Olham-te invejosamente a liberdade e a honra. Amo-te por isso. De ti querem só a força da insanidade. MATA-OS! Não os permitas tomarem o lugar que a mim faz parte.

Desejo ser a tua filha favorita. Quero que a mim dediques a máxima plenitude dos teus conhecimentos. Mata-me. Mata-me esta vontade disparatada de sentir. Apenas tu és capaz disso.

Não desejo partir daqui sem ti. Viver sem ti é desnecessário. O teu vazio não poderá nunca ser ocupado por coisa alguma.

É a ti que ofereço as minhas ações. Ações? Falo com a insensatez de um insano.

Que feitos possuo eu nas minhas anotações? A minha timidez é sempre um obstáculo, e várias vezes mal compreendida.

Por me devotar tanto a tua irmã solidão, por vezes esqueço-me de ti, insanidade.

Me desculparás por isso? Que posso eu fazer quando te esqueces de mim num cantinho quaquer? Que argumentos terei eu para te contestar quando me feres ao me fazer triste? Como te contrariar quando me obrigas a ser o oposto de mim própria?

Recordas-te daquilo que me fizeste da última vez? Recordas-te de me teres trancado naquele maldito quarto quando chamaste a tua criança travessa para me torturar? Bem sei que o fizeste para me pôr à prova. Sei, mas não creio. O meu conhecimento é oposto ao meu sentir. Divertiste-te. Brincaste comigo. Nesta altura apercebi-me que apenas os teus descendentes podem ser felizes. Fui tão tua descendente como fui amante da tua criança travessa. Conheci o suplício dos minutos que não passam, dos dias que não o são, das mentiras que pareciam reais.

Fui noite, treva e morte. E tu permanecias aqui, comigo. Podias ter-me dado alívio no sofrimento, mas escolheste testar-me ao limite. Será que jamais te passou pela mente que eu podia não desejar tal fardo? Será que jamais te deste conta que sou mais frágil do que achas, ó terna mãe??

São insanos os que amam. São insanos os que acreditam na criança travessa que tanto aprecias. Amor!

Mas tinhas razão. Saí forte da minha passagem ao tormento.

Ela era pecado e absolvição, escuridão e luz viva, era o seu e o meu coração. Mas quiseste que tudo não passasse de um teste e eu nada posso em oposição a ti.

Sou insana por te admirar. Insana! Serva tua jamais fui.

Aquilo que desejo é ser leal. A ti? Porque o seria?

Quero ser leal a mim mesma. Muito difícil. Sou excessivamente Eu.

Fica comigo. Não quero a lógica, não desejo a racionalidade. Tu és a beleza do universo, és a cor dos dias, o perfume dos minutos, a dor do sentir... Fica.

Tatiane Gorska
Enviado por Tatiane Gorska em 04/06/2009
Código do texto: T1631032
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