CONFISSÕES DA LUA

Hoje acordei mal humorada. Cansei-me, tem sido por demais enfadonho. Estou tão estressada!

Tirarei o meu disfarce, revelarei a face que não tenho.

Arrependo-me das noites que permiti flashes sobre mim, eram noites de glamour.

Amargos momentos que me senti ‘’usada’’ por casais enamorados que, em seu romantismo, usurpavam minha beleza. O pior disto, é que me sentia ‘’toda cheia’’, verdadeira musa inspiradora. Nesta fase de minha exibição, contemplei mulheres indo aos salões para cortarem suas madeixas, acreditando em minha influência sobre o crescimento – confesso que meu ego ia às alturas!

Repudio todo desprezo que a mim atribuíam quando aparecia de ‘’cara nova’’. Afinal, sempre fui vaidosa, tinha de banhar-me toda a volta, os raios solares davam vida ao meu corpo inteiro. Então culpavam-me por casais que não faziam declarações tão amorosas e românticas. Suas fotos não tinham o brilho desejado. Trazia sobre meus ombros crueldades, violência e rompimentos de relacionamentos, somente por não brilhar como queriam.

Contudo, sinto-me injustiçada, chamo as estrelas por testemunha. Certamente elas compreendem meu drama.

Quero que me levem ao tribunal, já estou derramando lágrimas de sangue!

Tirarei os meus disfarces, acabarei com a hipocrisia à qual me submeti. Todos os méritos que recebi até hoje, não me pertencem, mas a outrem.

Sou ré confessa, talvez assim diminuam minha pena.

Quero a mídia presente, farei uma declaração estarrecedora:

- Durante milênios de existência apropriei-me indevidamente de uma falsa identidade. Recebi honras indevidas. Ludibriei amantes, poetas, músicos e fotógrafos. Meu consolo é que ao menos estes foram recompensados de alguma forma.

- Eu , porém, abro mão dos direitos autorais que a mim concederam em prol do reconhecimento do verdadeiro astro que esteve oculto, ofuscado por minha causa. Declaro que toda grandeza da minha glória provêm dele. Não passo de um espelho a refletir seu calor, luminosidade e fulgor. Ele sim, é o protagonista desta história. Ele empresta seus atributos a um pobre satélite opaco, que tem quatro fases, ou faces, dependendo de como queiram acusar-me.

Resta-me pedir perdão por usar meus disfarces, camuflagens utilizadas em minhas apresentações: minguante, crescente, nova e cheia.

Alessandra Borges
Enviado por Alessandra Borges em 03/06/2009
Código do texto: T1630951
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