O intolerável ruído do silêncio

De todos os meus pavores, o silêncio é o maior.

Por natureza defino-me como um espírito solitário, mas contraditoriamente, não tolero o silêncio.

Gosto, venero sentir-me sozinha. Totalmente sozinha. Todavia, nunca soube como cessar a fala do silêncio.

Não são poucas as vezes em que me alheio do barulho e do tumulto que me cercam. É nestes momentos que quase sinto a minha alma abandonar a sua clausura mundana. Não mais faço parte deste mundo que me restringe a cada respiração.

Vôo vagarosamente acima dos que chamo, de modo errôneo, de amigos.

O tumulto neste instante já me é exterior. Neste momento, sou apenas luz, limpidez e harmonia.

Do barulho que antes me impossibilitava de raciocinar, já não sinto coisa alguma. Outro som, muito mais influente, lesa-me os sentidos. Tento fugir. Brado. Corro. Paro. Volto a fugir e brado. Brado tão alto que os meus brados se misturam desordenadamente com os dele.

Quero voltar para o universo do tumulto! Não estou pronta para o defrontar. "Silencia-te!", determino. Ele permanece. "Por obséquio, pára!", imploro. Ele torna-se ainda mais impetuoso na sua ira.

De repente ele some e eu por instantes volto a ser corpo e alma. Tenho a opção de escolher. Quero ficar no meio dos que nada me falam, mas que tudo expressam. Regresso. Ele sabia que assim seria. Sinto-o sorrir. Ri de mim. Ri da minha fragilidade. Detesto-o.

É ele, o silêncio, que tortura os meus dias plúmbeos.

Quiçá alguém já o tenha conseguido amansar. Não sei se a minha ruína se deve ao meu pouco desejo de o assassinar ou à minha ignorância. Ignorância, portanto. O meu conhecimento, aquele que julgava tão completo e sem falhas, derriba-se a cada nascença do sol. Mas disso não tenho dó. Nenhuma. O meu desejo de independência é maior do que o meu brio. Maior do que eu, quem sabe maior que a minha própria vida.

Serei silêncio. Serei eu e ele. Silêncio.

Tatiane Gorska
Enviado por Tatiane Gorska em 03/06/2009
Código do texto: T1630333
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