Expandiando Horizontes
Expandindo Horizontes
Mestre e aluno jogavam xadrez em uma das mesas rústicas de pedra que ornamentavam o grande pátio das estátuas que era rodeado por muros vivos de trepadeiras verdes e dispostos a formar um labirinto que era melhor contemplado do alto, na sacada principal do casarão bicentenário.
Como sempre, durante o chá-das-cinco, eles dispunham as peças talhadas em madeira de lei sobre o tabuleiro riscado sobre a pedra.
O aluno, acostumado a não conseguir muitas vitórias sobre o mestre, desconfiava que quando estas ocorriam, não passavam de ter acontecido por descuidos deliberados do ancião, para que o jovem rapaz, não perdesse o interesse nos futuros confrontos.
- Check-Mate! - Disse o velho homem, antecipando uma pomposa gargalhada. As mãos, sobre o abdome, pareciam tentar inutilmente conter os espasmos de sua risada.
O Aluno derruba o rei recém rendido pela rainha do oponente, num gesto que demonstrava aceitar sua derrota.
- Faça como a rainha do xadrez, disse o mestre, limpando algumas lagrimas do seu regozijo.
- Não entendo mestre – retrucou o aluno, que agora reorganizava as peças sobre o tabuleiro para um novo jogo e uma possível nova derrota.
- Veja como os peões são pequenos e limitados – continuou o velho sábio – existem aos montes, avançam uma, no máximo duas casas á frente. É a única coisa que fazem e ordinariamente são os primeiros a saírem de cena. Em geral, ajudam a guardar espaços e acessos, ou seja, são descartáveis num plano mais amplo em detrimento à proteção de alguns outros poucos.
- As torres são imponentes e cortam todo o tabuleiro, mas apenas em linha reta. Vistas desta forma são pouco úteis nas grandes viradas da vida.
- Os cavalos, fortes e incansáveis, porém, limitados, pois seus trotes são longos e em forma de “L”. Cavalos nasceram para ser transpositores de obstáculos, mas são inúteis para quando os inimigos estão logo ao teu lado.
O aluno olhava fixamente para as peças, imaginando as cenas de suas limitações e vantagens.
- Os bispos – seguiu o mestre – são tão ágeis quanto às torres ao cortar o tabuleiro inteiro, só que diferentemente das gigantes de pedra, o fazem sempre na diagonal. São incapazes de seguir uma linha reta ou um foco na vida. Nunca conseguem acompanhar ninguém, lado a lado.
- Já o rei, não chegou lá à toa, sábio, aprendeu com as dificuldades. É dinâmico, move-se em todas as direções, porém, tem muito a perder, então é moderado e contido em seus passos. Percorre apenas uma casa por vez. A cada passo, mil ponderações.
- Agora, meu filho, responda-me. Qual a peça mais poderosa do xadrez?
- A rainha - disse o jovem homem com a falta de entusiasmo de quem sabe, logicamente que é a única peça que ainda faltava na analogia alegórica do mestre.
- Claro! A rainha! Ela é a mais poderosa peça no xadrez. Tem a lealdade dos peões, a determinação das torres, a força dos cavalos, a tenacidade dos bispos e sapiência do rei. Percorre todo o tabuleiro em toda e qualquer direção. Ela ultrapassa meros limites. Faça como a rainha do xadrez. Expanda seus horizontes!
23 de junho de 2008