OS PEIXINHOS DOURADOS
Que de mágico há na casinha alaranjada que se apresenta humilde e alheia numa esquina da capital?
Na sala, sobre almofadas prateadas, a moça aprecia seus peixinhos dourados flutuantes num imenso aquário de cristal, que reveste as quatro paredes do recinto. Do piso ao teto, a estrutura de cristal mantém vivos os peixinhos dourados, que nadam de um lado ao outro, embalados por serenidade e graça! No metro entre as paredes e os cristais, centenas deles deleitam-se em águas cristalinas a beijarem vegetais aquáticos e brincarem com pedrinhas brancas.
E a moça só tem a eles, os peixinhos dourados, como luz e cor de sua vida. Não quer nada nem ninguém... Não tem vaidades nem solidão...
E o sol tímido que vem de fora aquece e ilumina as águas borbulhantes e energiza as vidas dos peixinhos dourados, que dançam cintilantes diante da moça. Ela rodopia seu corpo com mansidão, procurando recompensá-los pela leveza...
De repente, uma bala perdida invade a sala e despedaça, impiedosa, o aquário de cristal dos peixinhos dourados!
E a moça sucumbe nas águas abundantes...
E os peixinhos dourados se asfixiam agonizantes...
Que de trágico há na casinha alaranjada que se apresenta triste e indefesa numa esquina da capital?
A realidade, abrupta, rompe a redoma de sonhos...
BHte, 1997.