OS PEIXINHOS DOURADOS

Que de mágico há na casinha alaranjada que se apresenta humilde e alheia numa esquina da capital?

Na sala, sobre almofadas prateadas, a moça aprecia seus peixinhos dourados flutuantes num imenso aquário de cristal, que reveste as quatro paredes do recinto. Do piso ao teto, a estrutura de cristal mantém vivos os peixinhos dourados, que nadam de um lado ao outro, embalados por serenidade e graça! No metro entre as paredes e os cristais, centenas deles deleitam-se em águas cristalinas a beijarem vegetais aquáticos e brincarem com pedrinhas brancas.

E a moça só tem a eles, os peixinhos dourados, como luz e cor de sua vida. Não quer nada nem ninguém... Não tem vaidades nem solidão...

E o sol tímido que vem de fora aquece e ilumina as águas borbulhantes e energiza as vidas dos peixinhos dourados, que dançam cintilantes diante da moça. Ela rodopia seu corpo com mansidão, procurando recompensá-los pela leveza...

De repente, uma bala perdida invade a sala e despedaça, impiedosa, o aquário de cristal dos peixinhos dourados!

E a moça sucumbe nas águas abundantes...

E os peixinhos dourados se asfixiam agonizantes...

Que de trágico há na casinha alaranjada que se apresenta triste e indefesa numa esquina da capital?

A realidade, abrupta, rompe a redoma de sonhos...

BHte, 1997.

Marco Aurelio Vieira
Enviado por Marco Aurelio Vieira em 01/06/2009
Reeditado em 17/07/2011
Código do texto: T1626038
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