A despedida

E venho mais uma vez na infeliz tentativa de escrever sobre algo que nem mesmo sei conceituar: os sentimentos que existem entre teu corpo e o meu. Já falei sobre teus medos, bobos eles, porque não se fundamentam, nem possuem razão de existir. Não! Não estou menosprezando teu medo, tua covardia. E não estou te chamando de covarde no sentido agressivo da palavra. Porque você entende tudo errado? Lá vem você querendo se defender. Calma. Não vim machucar. Não quero mais isso pra gente. O mais certo de tudo, é que ainda não sei o que quero pra nós dois. Já tentei fingir que os fatos não existem e que a gente pode descartá-los, mas não consegui sustentar essa verdade, porque não era uma.

Porque a gente não é super-herói de filme, como aquele que a gente assistiu, lembra? Que qualquer situação era facilmente resolvida? Infelizmente não temos esses poderes. A gente não pode ignorar as distâncias. E eu não consegui te convencer que poderíamos. Nem a mim mesma, fui capaz de convencer. Não te culpo, e começo a não me culpar também. Começo a achar que a vida não foi legal e ponto. Simples, assim. Que o que sentimos não importa, porque a gente tem coisa demais pra enfrentar e você não parece disposto a partir pra guerra e declarar independência. Se sente preso, e assim permanecerá porque não consegue se soltar. E nem precisa começar com o discurso de sempre. Garanto pra você, que sei de cór todas as tuas frases e palavras pra justificar tua prisão. Tua infelicidade. Não quero saber dos teus argumentos e não estou acusando você de não querer, mas é fato, amor: você não se liberta, e eu não me prendo a você. Não mais.

Você diz que sou inflexível, e eu que você é egoísta. Eu falo que você só pensa em você, você diz que sou sonhadora demais e que as coisas não se resolvem tão facilmente assim. A gente se desrespeita e no final chora junto uma vontade igualmente destruída. Eu sei que você não queria assim, e você sabe que minha vontade também não era essa. E a gente troca lamentações e depois revive saudades antigas, pra tentar aquecer um pouco o coração congelado que ajudamos a criar na gente.

Já tentei de tudo. Fiz você ter raiva de tudo que a gente viveu, tentei ficar mais perto, tentei brigar pra sentir raiva e desaparecer, desapareci e voltei cheia de arrependimentos e saudades. Não fui forte o bastante pra sumir da tua vida. Fiquei alguns meses sem te ouvir, sem te ver e fui fraca. Procurei. Quis mais uma vez. Tirei tuas fotos do fundo da gaveta e chorei, de novo.

Dessa vez quero despedida de verdade, igual cena de filme, porque a intenção é de nunca mais... O caminho é sem volta. É pra ir e não mais ouvir teu nome. As palavras são as últimas, amor. Simplesmente não agüento mais carregar essa situação, não consigo ter metade de você e não consigo caminhar sozinha esperando alguém que não vai chegar. Fique aí. Quieto e preso ao teu mundo. Ao mundo na qual não quero mais fazer parte, na qual você não consegue fugir. Não adianta. Pare de falar, por favor. Não dificulte ainda mais esse momento. Não me faça sofrer mais do que o necessário. Já não tem sido fácil por muito tempo. Você sabe. É insustentável.

Adeus, amor meu. Tá na hora de partir. Tá na hora de me despir de todos os momentos. Tá na hora de jogar fora o que não é meu. Tá na hora de embrulhar o que é teu e devolver. Chegou à hora: a nossa hora. Só não esqueça nunca do que a gente viveu. Você mora em mim pra sempre, mas eu preciso me afastar de você. Preciso, acredite. Fica com Deus e com os meus sorrisos mais bonitos.

“Amar quem teme o amor é como se apaixonar por uma sucessão de desistências. É como viver apenas a possibilidade de algo, mas com a sensação de que ela nunca se estabelecerá. [...] Quem teme o amor consegue ser mais perverso do que quem o magoou.”

[Marla de Queiroz]