Caixa de Sonhos

- Dueto com Tamires, meu trenzim mais lindo.

Saia sorrateiramente, e não esqueça de por aos pés da cama, essa caixa que um dia lhe emprestei, quando meus sonhos já não cabiam mais em mim. Eram inúmeros que temi transbordar ao chão com tantos delírios. Então, devolva-me como um dia te foi entregue: Cheia. Se quiser misturar teus sonhos aos meus, por favor, avise-me: Não quero ser culpada por extraviar desejos ocultos de ninguém.

Porém, deixe a caixa aberta. Sim, aberta. Meus sonhos, eu sei, não irão embora: Eles ficarão ao meu lado, numa espera adocicada de alcances palpáveis, abstraídos de momentos que nunca foram em vão.

E também irei desfazer o laço de fita, tão bonito que você fez. Decorou tão delicadamente, e disse que parecido comigo, ficou. Eu lembro que ri, sabe? Porque eu nunca fui tão delicada assim, mas consegui fingir bem. Eu fui forte. Álias, sou mais forte do que esperava. Nenhuma lágrima caiu. Nenhum suspiro demasiadamente triste deixei que percebesse em mim.

Não me lembro de ter sido menina, e não sei onde começa a mulher. Onde finda. E agora não mais brincarei de contorcionismo: Vi que, meus sonhos e eu, não cabemos dentro dessas caixas - suas ou minhas. Somos ilimitados. E paredes não podem sufocar meus anseios. Não podem ignorar esse pulsar que acelera num compasso cada vez rápido.

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Tuas palavras entram em minh’alma como uma flecha afiada, e machuca, minha menina. Dói ouvir você querendo de volta os sonhos que construímos, juntos. A caixa não vai pro pé da cama, não ficará aberta e não ficará esquecida. Não vou fazer o que me pede. É um desatino sem sentido algum. Não tenho como separar teus sonhos dos meus. A caixa virou uma só no momento em que a gente não mais era metade, virou inteiro no primeiro olhar, no dia que você sorriu pela primeira vez.

Sei que não tenho sido o melhor dos teus desenhos, e sei também que muito da nossa cor tem sido desbotada com as atitudes que eu tenho tomado. Não é por querer, juro. Amor meu por você inteira é tão imenso, que às vezes, sinto que nem sei mais como fazer você feliz. Os momentos nunca foram em vão. Nunca foram, minha menina. E as lágrimas insistem em cair do meu rosto, porque não sou forte como você. Não sei ser. E mesmo sem querer que você perceba, meu sofrimento transborda pela minha face, e fica completamente impossível escondê-lo de você. Bem que eu queria. Fraco, eu sou nessa hora.

O laço: não desfaça. É teu. É nosso. Lembro como se fosse hoje: teu sorriso ao ver a caixa toda colorida de nós dois. Mais lindo que a caixa enfeitada de laços e recortes, era teu olhar ao ver nossos sonhos todos juntos, inseparáveis. Sem contorcionismo, minha menina, porque o nosso mundo cabia todo bonito lá dentro. E agora você me pede que te devolva? Não posso. Não quero. Não devolvo. Se quiser levar, me leve junto, porque não conseguirá separar o teu do meu, pois agora é tudo nosso.

Você é menina-mulher, junto. Consegue ao mesmo tempo, ter a delicadeza de um amor sereno, desses de conto-de-fada, misturado ao fogo da paixão, desses de cinema. E eu volto, pedindo que me aceite, com a caixa na mão. Cheia de sonhos. Os nossos. Eu volto, pra que você veja que cabemos sim, aqui dentro: um do outro. Eu volto, porque nunca fui inteiro longe do teu sorriso. Agora, volto todo pra você. Me dá sua mão, segura comigo os sonhos todos, porque eles querem sair voando e virar realidade nossa. E eu não posso ignorar esse pulsar que acelera num compasso cada vez rápido.