ETERNAS E NOVAS FANTASMAGORIAS

Sinto-me perplexa da medula dos ossos às pontas dos fios dos cabelos. Sinto a realidade da minha vida como mais fantasmagórica do que nunca, como se isso fosse possível. COMO SE ISTO FOSSE POSSÍVEL. Percorre-me ainda mais fundo, como se também isto fosse possível, a tristeza vinda simultânea de todos os mundos impossíveis que sempre urgiram-me no sangue, no enquanto da eclosão das outras fantasmagorias que persistem junto com a ameaça já presença destas novas. E, sobre todas as passadas, presentes e vindouras, a presença alucinógena do de sempre, com as suas mesmas palavras e silêncios de sempre a tentarem formatar as mesmas e as novas formas da morte, as mesmas e as novas formas de morrer.

E, de repente, do nada, a ameaça de presença de dois novos seres, vindos um do reino dos normais - se é que isto existe - e o outro, mais um habitante dos reinos das loucuras-lúcidas, aos quais sempre pertenci, a estes reinos que me perderam e aos meus cúmplices neles. Quero recusar-me a qualquer novo rosto duplo a espreitar-me,sorrateiro, entre os outros todos duplos implacáveis, que não esboçam quaisquer sinais indubitáveis de retirada definitiva. Serei capaz de tal recusa? A dificuldade é insofismável porque constituem, cada um de todos eles, o contínuum múltiplo rosto de mim, jamais resolvido num uno; este contínuum do qual eu nunca soube, nem talvez jamais saiba como abdicar. Vivera agora na Idade Média e já estaria há muito e talvez com todos estes duplos a vagar, pelos oceanos afora, na irremediável nau dos loucos.

Zuleika dos Reis

30/31 de maio de 2009.