Meu mar

E há dias em que nem a chuva fininha nos toca a pele, em que há algo que nos aquece, em que existe algo que nos faz sorrir, acreditar em nós, crer no universo.

Há dias em que o caminho parece aberto, extenso, pleno de possibilidades e, ao olharmos para ele com um pouco de atenção, quase conseguimos ver a relação harmônica das formas do irrealizável. Há dias como estes, em que a brisa congela a pele, mas somos impossibilitados de deter um sorriso. Existem dias como estes, em que sentimos que alcançamos alguma coisa, que conseguimos subir mais um degrau, em que cremos que o nosso esforço foi, de certo modo, reconhecido. Existem, da mesma forma, dias como estes, em que nos sentimos aconchegados no carinho e na cumplicidade da amizade e sabemos sorrir-nos e estimá-la ainda mais que no instante anterior.

E há dias em que sentimos que esse algo que está aqui dentro seria capaz de vencer o universo inteiro.

Hoje, foi bom sentir que já quase te resisto. Foi bom experimentar as ondas do meu mar movimentar dentro de mim sem sentir vontade de tocar a tua sensaboria, a água paralisada do teu lago cristalino. Foi bom sentir-te banal, comprimido entre os traços do universo, enquanto o meu ser se derramava até ao horizonte.