QUE RAIVA

Estou doente de raivas.

Só vejo esquinas e para lá delas vazios. Esses têm espinhos que viram tripas com olhos.

Há fogo no canil. Salve-se a colecção de ossos danados e a gamela das dentadas.

Chega a concorrência dos ratos a morder calos e a engolir brasas. O inferno garimpa na testa.

A esmola é uma naifa de dois bicos. Trocos caiem em saco roto.

A mentira é um balão ensaboado. Enche a língua de estrias e pela calada esfuma-se.

A desculpa estúpida manca a sete pés no dorso de um porco.

Já não lhe vejo o rasto, mas sinto-lhe o rosa louco.

Doente, a palavra, derrete-se num copo de azia. Há quem beba e não confesse.

Estou lá no alto e salto de olhos fechados agarrada à gravata da razão.

Faço-me cabra e berro de pulmões abertos.

Mas ninguém ouve, e os tímpanos estouram-me nos olhos…

Cheira a mofo dentro da minha cabeça. Apago-me.