Embriagada
E novamente te falo... és como uma substância entorpecente para mim. O teu perfume, a tua imagem, a luz que se reflete na tua pele e te dá um toque de sublime, de sobrenatural.
Alguma parte de mim deseja ter-te ardentemente, almeja tocar-te, experimentar-te, como se a minha sanidade estivesse dependente disso, como se o meu corpo pudesse não resistir por não te ter ao meu alcance e a mente se pudesse perder num singular vazio.
Pouso os olhos em ti por um breve instante, o bastante para que o meu ser se fortifique de uma impulsão incoercível. Fluis nas minhas artérias com a velocidade da mente, espalhas-te no meu corpo, enrijeces-me os músculos, nublas-me os sentidos, cansas-me o coração numa carreira insensata.
O teu cheiro... é como uma brisa da mais perfeita estação... faz-me perecer na mais agradável das entregas, deixa-me embriagada, presa numa suavidade tépida de onde nada em mim deseja sair.
Oh... e tocar-te! Tocar-te seria o deslumbramento de um sonho passageiro, seria o instante do acolhimento final, como se nada mais existisse para sentir. Estaria preparada para morrer, para perder-me em sangue à sombra da tua indiferença.
Mas tudo é transitório e tão e esquivo... E, como uma substância alucinógena, os teus efeitos passam num momento e fica apenas um cruel vazio, uma ressaca, uma carga disseminada que constrange o corpo e faz sofrer o intelecto. E, como se de um vício se tratasse, espero sempre, ansiosamente, por uma nova dose de ti.