Por Una Cabeza

Da estação paixão parte o expresso incoerente. Descarrilado trem a vapor ludibriador da razão, flutua além dos trilhos envolto em névoas do inconsciente. Seus vagões não são confortáveis, nunca serão, mas tem um inesquecível cheiro de patchouli, meu perfume adolescente. Para os viajantes entusiasmados é servido o mais inebriante dos vinhos, uma taça de ilusão, por favor! Sempre provo e fico tonta, confusa, quase me perco no tempo, mas por una cabeza! Já ouço ao longe: É o baile dos desmascarados. Fogos de artifício, jardim de Giverny, primavera então no ar. Vou correndo entre flores, meu vestido bordado de sonhos, esperanças e intenções quintas, um furacão a me levar. E lá está você, lindo... Reluzindo em seu terno estrelado, perfumado de jasmim da noite, sorrindo feiticeiro me convida para dançar. Rosa rubra entre os dentes, dois para lá, cinco para cá, rodopio, mão faminta escorregando, me puxa com força, eu nego, faço cara de quem não quer, mas quero, me jogo aos seus pés, me arrasta, me leva, me repele, me recolhe, corpos em brasa, pernas a encaixar, ai que vou desmaiar! Nossos poros transpirando, nossos perfumes misturando, o mundo todo girando e no centro dois cegos, arrebatados, em perfeita sincronia de passos em um tango condenado.

Para ler ouvindo Gardel...