HOJE, EU VI JESUS CRISTO

(DE SEIXAS, Jordão Moraes)

“Mais do que um Pastor, um Padre, um Bispo

Ou até mesmo o Papa!- Hoje, eu vi Jesus Cristo!”

Domingo, 22 de Março de 2009.

Vila de Monte Sinai.

Hoje, 22 de Março de 2009, vivi a maior experiência de Fé de toda a minha vida, até agora! Talvez ela tenha sido ocasionada pelas lembranças e saudades, mas, hoje eu vi Jesus Cristo!

Cheguei por primeiro, lá na Capelinha de São Jorge no Alto Anajás, bem na boca do Igarapé¹ do Peixe Boi. Ele chegou depois no seu “botinho”²que mal cabia cinco pessoas. (¹ boca do igarapé: inicio do igarapé/ ²botinho=bote: tipo de embarcação marajoara mais utilizado pelos ribeirinhos)

Fomos apresentados informalmente, falei rapidamente com Ele e nem lhe dei tanta atenção, pois, me encontrava acompanhado de minha noiva que naquele momento escolhia um lugar para nós para sentarmos.

A Igrejinha era tão pobre que nem possuía janelas; a porta era amarrada com um fio que fazia a vez de uma fechadura; luxo não havia, mas, foi lá que eu vi Jesus!

Sentei-me ao lado de minha noiva no segundo banco da frente, pertinho do Altar e bem atrás de umas crianças que cantavam alegremente. O banco era de madeira bruta, sem encosto e sem conforto, mas, o coração daquela gente substituía qualquer conforto do mundo.

Ele entrou por último, dando “Bom Dia” e apertando a mão de todos. Neste momento, ainda guardava consigo a sua verdadeira face.

Descalço, dirigiu-se ao Altar. Abriu a “Palavra” e numa breve saudação, publicamente, saudou a minha presença e da minha noiva. Lembrou de cada doente da Comunidade e iniciou o “Culto Dominical do Quarto Domingo da Quaresma”.

A partir desse momento o desencanto daquele “Ser”, abriu-me os olhos pra Verdade. Então, passei ver o que meu coração já sentia. Vi Jesus Cristo pela primeira vez e até falei com Ele e Ele falou comigo.

- Eu sei que não estou enganado, mas, quem estava ali, era Jesus Cristo!

Emocionei-me quando levantou a “Palavra” junto aos seus olhos por causa da dificuldade de enxergar, se mostrando ser um “Jesus” humano; vi neste levantar as suas mãos calejadas pelo tempo e pelo trabalho árduo; as unhas eram encardidas pela tinta do açaí, igual a tantos por aqui.

Olhando para os seus pés descalços, calejados e curvados para fora, pés de quem muito caminhou; o chapéu que deixará ao lado do Altar, era que nem a camisa que vestia: encardidos e amassados; a calça, única peça de roupa especialmente para a ocasião (Cultos Dominicais): passada e engomada, mostrando um “Jesus” que não se importa com aparências físicas.

Chorei! Chorei e ao mesmo tempo tentava me conter. – Não queria que as lágrimas estragassem em nenhum momento a minha contemplação.

Eu parecia está extasiado com a sua presença e maravilhado com o jeito como “Ele bebia naquela fonte de sabedoria”³ bem a sua frente em cima do Altar.(³ Fonte de Sabedoria: Neste contexto se refere a Bíblia Sagrada)

- A sua boca! ... A boca não possuía todos os dentes, mas, o seu sorrido dando em nossa direção foi o mais lindo que já vi.

Enquanto sorria, procurava articular a leitura do Evangelho de São João (3, 14-21), esquecendo de linhas, engolindo palavras; seguia lentamente a sua leitura, fugindo das regras gramaticais com a dificuldade de quem foi vítima do Sistema Educacional, mostrando um Jesus que sofre igual ao Povo.

Após a leitura, com humildade disse duas ou três frases que mesmo sem entender, meu coração ardia no meu peito e cerrava os meus ouvidos. Cheguei entender somente a última frase que dizia: - “Foi isso que entendi!”... Mal sabia aquele ser que aquele sermão foi o melhor que já ouvira em toda minha vida.

Seus cabelos, assim como sua idade, brigavam com o tempo. Alguns cabelos pretos e muitos grisalhos combinavam com a sua serenidade, mesmo com o rosto deformado pelo tempo e trabalho.

Podem até não acreditar, mas, eu vi Jesus Cristo hoje. Lá na capelinha e S. Jorge.

No término do culto, ofereceu-se para nos deixar em casa com seu bote, aceitamos.

Na despedida, apertou-nos as mãos demoradamente e eu pude então sentir seus calos e num instante, imaginei o seu viver. Disse-nos o seu nome que nem fiz questão de decorar e nem quero saber.

Aquele “Homem” é o mesmo “Jesus Cristo” de sempre que nós vemos todos os dias e a todo o momento em cada um de nós, mas que pra vê-lo, como eu vi hoje, precisamo-nos “desencantar”.

Não procurarei saber seu nome, pois, sei que num outro dia vou reencontrá-lo, com outro rosto, outro nome, numa rua, numa esquina ou num rio qualquer da vida. No rosto de um Jovem ou de um Ancião, num outro Altar.

O “Jesus” que eu vi hoje, lá na Capelinha de São Jorge, era um “Cabloco Marajoara”. Não sei onde mora, seu nome e nem o seu passado, mas, hoje e pra sempre, será lembrado como o “Jesus Cristo da Capelinha de São Jorge”.

Amanhã, pode ser Eu ou pode ser Você que está lendo este texto, o próximo a ser o “desencantado” na vida de um irmão.

- Deixe Cristo se manifestar em você!

- Desencante-se!!!

“Desencantar

É deixar que a nossa Santidade de Cristãos Batizados

Se revele em nós,

Para nós

E para o próximo”.

Autoria: Jordão de Seixas Moraes

Professor do Município de Anajás- Zona Rural – Vila do Monte Sinai.

Anajás- Marajó- Pará.

De Seixas Moraes
Enviado por De Seixas Moraes em 21/05/2009
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