Homens
Do meu lado sinistro
Vejo um ser que, em jactância,
Grita seu nome ao excelso vento,
Como se dono dele o fosse.
E, em reflexão profunda,
Em título de mera observação melindrosa,
Vejo pesar o tom óbolo sobre tão pequeno ser -
E isso não me assusta,
Pois eu sou da época em que falta luz,
Enquanto vejo luz onde lugar não há;
Hodiernamente, as pessoas precisam usar óculos
E, no reflexo de suas lentes, vejo cegos,
Que – pusilânimes – negam-se a enxergar.
Sou da época que a ignorância, ainda que lactante,
Afeiçoou-se das pessoas, fazendo-as recuar
(talvez por medo?).
Nasci onde até o tempo pede tempo e diz:
“Não posso continuar:
Minhas horas se mitigam na ganância incessante
Do conhecimento austero,
Onde tentar renascer, todos os dias, a sensibilidade”
Mas, além disso, vivo a época em que há homens
Que, como aquele homem suso,
De homens não se pode chamar:
Os homens devem uns aos outros
E, como depositários infiéis,
Tomam tudo para si;
Negam-se a admitir;
Enfim, são – e não são – homens.