Quando naufragar é preciso

Estou lá, tão dentro de mim, na minha humilde exploração desse imenso país. Pobre escravo de minhas demandas sempre a perguntar: quem está aí? Eu lá dentro e a estrada a passar, o tempo a correr. Que fôlego tem o tempo, mas eu, efêmero grão no éter me sinto tão pequeno, não posso competir, vou me aninhar e deixar levar. Pode passar que eu vou ficar aqui por dentro mesmo, há tanto aqui para ver, encantos e desencantos. O tempo não cura tudo? Que vá correndo por aí.

Mas não se engane, estou absorto e não alienado, mais desperto do que nunca, meus olhos bem abertos, enxergando tudo, dentro e fora. Só estou em fase de conserto, resignado, juntando os cacos e os reciclando. Aí fora, como sempre, tudo a me chamar, o sol na face, o suor na pele, o cheiro do mato, cores e sons, tudo a me tocar, invadindo meu país e colando meus pedaços. E assim eu vou esperando o tal clarão dentro de mim. Vivo por esses momentos, nada resolvido, tudo esclarecido e a paz... O melhor da paz... E você, já tentou explicar esse instante? Sequer parou para pensar sobre? Não me diga que é um daqueles que fingem que não sentiu, sei... Belo tapete sobre tanto lixo. Eu prefiro o dedo cutucando a ferida da alma, sangrar se for ruim ou eclodir, transbordar se for bom. O melhor de naufragar é despertar na praia.