A estrada do rio das pedras

Tempo de escapar do tempo, pois naqueles instantes que compunham aquele incauto momento nos pensamentos só havia o desencontro. Mas, que feliz desencontro! Brincadeira de esconder com um só brincante. Estrangeiro em terra devastada com privilégio de explorador que deseja tesouros perdidos procurando entre as coisas mais simples, a pele dos pés, finalmente nus, a sentir a terra, as pedras do rio e a areia da praia. Intensa luz a descortinar o olhar, céu no rio, sol no mar, calor a aquecer o corpo e a alma, tempo para, sem pressa, poder divagar e buscar banalidades que o próprio tempo não deixa perceber. A voz do rio, pedra firme e muda, água a sussurrar: já que é difícil furar, vou arrastar, vou levar, quando perceber já estará tão longe, não reconhecerá mais o lugar.

Tempo de percorrer a estrada das árvores bailarinas que vão dançando com a cantoria dos ventos, O bambuzal se curva e também canta. Fecho os olhos para sorver melhor os cheiros que vou carregar na memória. Cada passo um instante nesse incansável, inconstante e tão flexível pensamento. As flores do caminho, os jardins derramando exuberância ao meu olhar, ensinando as cores desse novo tempo.

Tudo que move é sagrado, Beto Guedes, cantando em uma casinha a beira da estrada, tem razão.