Notívago

A lua já ia alta.

Deitei-me no escuro, a luz notívaga filtrando-se na janela.

Senti a tua ausência. O quarto permanecia excessivamente vazio e silencioso. A cama era demasiado grande para mim, demasiado gélida para o meu corpo só.

Contemplei o teto alvo. Era divergente e já não respirava com o teu ar. Tinha mistérios escorrendo pelas paredes, escuridão de outras noites que passei perdida na minha incompatibilidade débil.

Refleti sobre o que falaste. Sou frágil, como uma criança diminuta com medo do que possa permanecer por baixo da cama. Ali, completamente só na escuridão, no quarto que tantas noites me acolheu, senti-me a criança que fui, aquela que falava com as janelas neste instante silenciosas, aquela que tinha medo daquele brilho esquisito no canto do abajur, aquela que tinha vontade de berrar, mas engolia em seco enquanto os lábios receavam.

Levantei a minha mão. Era maior, bem maior do que dantes me recordava, do que naquela vez em que acordei no meio da noite tentando alcançar algo no escuro. Era mais delgada e influente do que alguma vez fora. Era a minha mão. Aquela que tocou a tua, que sossegou sobre a tua cabeça, que te acariciou o rosto e te esquadrinhou o corpo.

A minha mão.

É estranhamente agradável a força que sinto contigo ao meu lado. Sei que posso tudo. O mundo é meu, o universo é nosso. A noite, uma teia da qual conhecemos as sedas, que se espalha no ar como vapor ao som do nosso equilíbrio.

Sorri às saudades que me devoravam.

Serei mais forte do que isto, um ser mais belo do que esta diminuta criança que permanecia deitada em vez de mim. Serei aquilo que desejar… e sei que sorrirás comigo.

Tatiane Gorska
Enviado por Tatiane Gorska em 17/05/2009
Código do texto: T1599031
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