As Sombras
A luz veloz que nos ilumina vinda de baixo, dos lados, de cima e de dentro até, faz viver a sombra, essa irmã xipófaga que nos ensina e sempre se une a nós pelos pés. A sombra é discriminada porque pensam que ela é a luz negada, mas não é. Será por ser Negra que a discriminam? Sim porque, na verdade, não são as luzes que nos iluminam. São as sombras. Sem elas a luz não existiria. Por qual estrada a claridade caminharia se não existisse a escuridão para revelá-la? E não é a matéria o papel desta fotografia? Então, não seria este o Santíssimo Terceto que possibilita viver em perfeita harmonia, com dois versos materiais – um deles de luz – e, completando a estrofe, o da escuridão que se contenta em ser as palavras e linhas da partitura, para que o Poema se faça canção? Não são as sombras que permitem existir e ser lida a criatura?
Quando andamos cabisbaixos, quase mortos e esmorecendo são elas que, desde os muros e chãos, nos lembram que ainda estamos vivendo. Que outro espelho nos possibilita ficar sonhando quando vemos da sala, na parede do quarto, escrita, a silhueta da nudez do outro com os hormônios se convidando para trocarem de corpos? E durante o ato humano mais sublime, o que é que num único e mesmo plano nos imprime e exprime, aos dois, como apenas um? Haverá algo mais lindo do que a sombra deste fogo incomum? O que haverá com mais beleza do que as nossas sombras se amando e confundindo entre elas e, sem dúvidas, sendo engolidas pela da frondosa árvore da certeza, sob a qual nos transformamos em sementes e plantamos-nos um no outro? O que poderia nos relaxar mais após o preparo da terra e da semeadura, do que cada um deitar ao outro e cobri-lo com as pálpebras e cílios na bem assombrada cama do olhar que, quando se encortina, prolonga o sonhar e apaga o testemunho veloso dos círios?
Quem nos acompanha nas maiores bebedeiras com gosto de cotovelo ferido e permanece deitado ao nosso lado, nos cuidando como o melhor cão-de-guarda, durante todo o porre, nos mostrando que, apesar de perdermos a metade, ainda estamos inteiros e que por Amor se chora, mas nunca se morre? Que outro companheiro fingiria estar bebendo apenas para nos fazer companhia e, na hora de irmos embora, depois que a consciência naufraga, se solidarizaria e, apesar de sóbrio por não ter bebido de verdade, também cambalearia? Qual o anjo que nos segue quando a luz está à nossa frente, para ir apagando os rastros do passado e que, quando a luz fica para trás, caminha à nossa dianteira para alertar de que estamos caminhando nos errados sentido e horário? E quando a claridade estiver em qualquer um dos lados, quem sempre nos equilibra e apóia, se colocando no outro, contrário, como sinalizadora bóia? E ao perceber que vem de cima a luz que deitados nos atinge, quem, sem se render, de morta se finge e fica sob nós, como um lençol sob medida e imaginário, desencobrindo parte do segredo da esfinge, milenário?
Não são as sombras, que chamam de marginais, os que andam juntos com a gente enquanto aqueles de quem precisamos dormem demais? Por que maldizem tanto a nós - filhas desertoras da luz que não nos basta - se são eles que operam o interruptor que nos afasta e, iluminados de lama e bondosamente escabrosos, se utilizam da claridão para nos fazerem umbrosos? Não serão, ainda, essas criaturas, seus pessoais coveiros cavando suas douradas sepulturas com “uma pá” de dinheiros? Sim, são tudo isto porque não possuem as nossas reações noturnamente vivas e anímicas. Eles são maus elementos “classificados” na vida não bela, periódica, falsa e rotineira, como imagens catódicas que, para viver, precisam se projetar na material luminescência. Não são eles, por desconhecerem as delícias da ciência de tomar os goles certos de escuro, os nunca aventurados, infelizes e verdadeiros corpos sem futuro? Sim, porque já nasceram cadáveres adultos e são os mais patéticos e luzidios restos existenciais dos seus mal-assombrados vultos...
Quando andamos cabisbaixos, quase mortos e esmorecendo são elas que, desde os muros e chãos, nos lembram que ainda estamos vivendo. Que outro espelho nos possibilita ficar sonhando quando vemos da sala, na parede do quarto, escrita, a silhueta da nudez do outro com os hormônios se convidando para trocarem de corpos? E durante o ato humano mais sublime, o que é que num único e mesmo plano nos imprime e exprime, aos dois, como apenas um? Haverá algo mais lindo do que a sombra deste fogo incomum? O que haverá com mais beleza do que as nossas sombras se amando e confundindo entre elas e, sem dúvidas, sendo engolidas pela da frondosa árvore da certeza, sob a qual nos transformamos em sementes e plantamos-nos um no outro? O que poderia nos relaxar mais após o preparo da terra e da semeadura, do que cada um deitar ao outro e cobri-lo com as pálpebras e cílios na bem assombrada cama do olhar que, quando se encortina, prolonga o sonhar e apaga o testemunho veloso dos círios?
Quem nos acompanha nas maiores bebedeiras com gosto de cotovelo ferido e permanece deitado ao nosso lado, nos cuidando como o melhor cão-de-guarda, durante todo o porre, nos mostrando que, apesar de perdermos a metade, ainda estamos inteiros e que por Amor se chora, mas nunca se morre? Que outro companheiro fingiria estar bebendo apenas para nos fazer companhia e, na hora de irmos embora, depois que a consciência naufraga, se solidarizaria e, apesar de sóbrio por não ter bebido de verdade, também cambalearia? Qual o anjo que nos segue quando a luz está à nossa frente, para ir apagando os rastros do passado e que, quando a luz fica para trás, caminha à nossa dianteira para alertar de que estamos caminhando nos errados sentido e horário? E quando a claridade estiver em qualquer um dos lados, quem sempre nos equilibra e apóia, se colocando no outro, contrário, como sinalizadora bóia? E ao perceber que vem de cima a luz que deitados nos atinge, quem, sem se render, de morta se finge e fica sob nós, como um lençol sob medida e imaginário, desencobrindo parte do segredo da esfinge, milenário?
Não são as sombras, que chamam de marginais, os que andam juntos com a gente enquanto aqueles de quem precisamos dormem demais? Por que maldizem tanto a nós - filhas desertoras da luz que não nos basta - se são eles que operam o interruptor que nos afasta e, iluminados de lama e bondosamente escabrosos, se utilizam da claridão para nos fazerem umbrosos? Não serão, ainda, essas criaturas, seus pessoais coveiros cavando suas douradas sepulturas com “uma pá” de dinheiros? Sim, são tudo isto porque não possuem as nossas reações noturnamente vivas e anímicas. Eles são maus elementos “classificados” na vida não bela, periódica, falsa e rotineira, como imagens catódicas que, para viver, precisam se projetar na material luminescência. Não são eles, por desconhecerem as delícias da ciência de tomar os goles certos de escuro, os nunca aventurados, infelizes e verdadeiros corpos sem futuro? Sim, porque já nasceram cadáveres adultos e são os mais patéticos e luzidios restos existenciais dos seus mal-assombrados vultos...