Um médico, o advogado e Borges
Pode parecer loucura, mas provavelmente o Ivan Cezar que pelo óbvio ululante não difere muito dos demais bípedes que integram a tal espécie humana, esteja vivendo seu surto momentâneo de insanidade. Que assim seja , então !
Como o Ivan Cezar compõe a vasta classe dos súditos que no império da sobrevivência, renova sua rotina na selva de um escritório de advocacia , onde o volume da contenda faz restar a ninharia dos ponteiros do relógio, ficam francas só esparsas migalhas de poesia.
Para manter o convívio – salutar contato com a parceria – as horas de trégua do advogado determinam o colar da bunda na cadeira, num diálogo dedilhado com o microcomputador . E na ciranda dos contudos, como a poesia é leitura, um livro vez por outra reclama sua fatia de tempo e hoje os olhos se fixaram no Borges...
Ah, sim ! – Ele o Borges argentino ou seria muito mais que isso ...traz para o texto o outro sujeito que integra o título : - o médico. O Doutor que assim como o vizinho advogado também abandona seu ofício e se entrega ao poetar.
Jaime Vaz Brasil, para quem o leu , plasmou Borges em seus olhos , tanto assim que escreveu “Os olhos de Borges”,em indelével reverência ao mestre . Desde sua Porto Alegre , o Jaime poeta é variedade de Ivan Cezar - o advogado e o médico - não nessa ordem necessariamente, mas em ambos o fascínio e a reverência ... Borges, o cara – e aqui só um carinha que pediu uma trégua ao “Personal Computer” .
Lendo os versos do Borges , alertou-me o tigre portenho que Deus, em momento de sublime ironia, ofertou-nos dois livros e uma noite ... Sim, a luz e a escuridão . Sim, o desejo incontido de saber ...de interpretar ...de respirar a inspiração e aspirar a poesia !
Mas que droga ! – Se meu tempo se esvai, tenho de acabar , e me acalmar, porque está próxima a madrugada de sono e o despertar abrirá a agenda para as causas do advogado tanto quanto aguardam na recepção , vestidos de doença , os pacientes do médico ...
Nós, provavelmente, observados pelos olhos do Borges que o Jaime cantou na nossa Porto Alegre , ou pelo próprio Borges que quiçá, ao empreender a longa viagem, tenha se libertado desse maldito tigre ... A fera ... o assustador e implacável demônio do tempo que, neste momento de insanidade literária fez Ivan Cezar reunir – no delírio de um resto de noite , o médico , o advogado e os poetas ... mas tudo , como convém aos loucos, com a devida e prévia permissão de Borges ...