Depressão
Eu não sou poeta de porto nem de mar
Escrevo nas trevas minhas pérolas de luz
Quando vir a lume um mote que reluz
Minha arma de fogo é punhal
O verso sangrando, abutre visceral
Roendo as entranhas, sem tempero,
Sem sal... O tédio é bem-vindo
Minha aurora fatal só existe de fato
No meu bálsamo umbral.
Crio sempre na véspera do enterro
Do dia, quando escuto o lamento
Dos que perderam um tesouro.
Um chorar é cantiga e redenção
A tristeza do jeca, a desgraça de Jó.
A sorte de José, a dor de Jacó
Não há obra perfeita que não possa imitar
Só a morte é direita, pois não há correção
Como não há poeta sem boa depressão.