Depressão

Eu não sou poeta de porto nem de mar

Escrevo nas trevas minhas pérolas de luz

Quando vir a lume um mote que reluz

Minha arma de fogo é punhal

O verso sangrando, abutre visceral

Roendo as entranhas, sem tempero,

Sem sal... O tédio é bem-vindo

Minha aurora fatal só existe de fato

No meu bálsamo umbral.

Crio sempre na véspera do enterro

Do dia, quando escuto o lamento

Dos que perderam um tesouro.

Um chorar é cantiga e redenção

A tristeza do jeca, a desgraça de Jó.

A sorte de José, a dor de Jacó

Não há obra perfeita que não possa imitar

Só a morte é direita, pois não há correção

Como não há poeta sem boa depressão.

Evan do Carmo
Enviado por Evan do Carmo em 15/05/2009
Reeditado em 15/05/2009
Código do texto: T1594910