A FORMA DA FELICIDADE

De Antiqüíssimas fórmulas passaram-nos as teorias que se comprovavam pelas suas experiências, mas não nos deram ciência dos resultados finais nem das não-conformidades que já conheciam e não sabiam tratar.

Eles diziam ser os componentes do sucesso garantido da felicidade: um homem mais uma mullher sendo juntados, simplesmente, para viverem separados. Dois preconceitos abraçados aos “podes não podes” das rotinas podres; catando o cada dia, dos cacos da ruína, sabido de todos impossível reerguer. Bodas de prata preta de suor inútil e sexo no escuro pela vergonha da luz; de ouro engordado pelas cadeiras ondulantes e bengalas de pés descalços, fadadas a espelhos pelo polimento com o pano seco das mãos do tempo. Olhando para a frente e nada vendo e muito menos enxergando no passado. Se justificando pelo argumento da preservação da espécie como ultima tábua, eternizavam a conservação da rota das vidas no rumo da infelicidade, no mar de tristezas de dores e mágoas.

Ah! Como me sinto incapaz de não poder executar essas misturas que essas nossas adoráveis criaturas, sem culpa, nos deixaram, covardes, mal legadas. Como me sinto frustrado em não poder participar da infelicidade deles, por não poder aceitá-la e compreender, porque sofreria menos. Como me sinto culpado por não conseguir ver isto como viver e, mais ainda, triste e desolado por ter nascido depois do seu passado. Desesperado pela impossibilidade de lhes ensinar que sua fórmula nunca resultou e jamais sintetizará o amar. Porque amar é uma “combinação”, numa alquimia em que nada se funde e nada é misturado, em que não há copos de Becker, bureta ou cadinhos. Que cada componente é único, íntegro, e livre de qualquer tipo de prisão, muito menos a das lustrosas alianças das bodas que atualizam e enriquecem os aros com cada vez mais nobres materiais, mas que empobrecem proporcionalmente as relações, que não denotam pacto. Que o Amor não deve ser a simples química. Que precisa ter estado eletro-bioquímico-físico, aquecido no caldeirão do universo, por ótimas esperanças e desejos insaciáveis, por faltas de ausências e presenças reais e empáticas, por toques inaudíveis, olhares mudos, cheiros intáteis, choros em “Braille” e mímicas cegas, sem manipulações. Que interessam muito e são bem vindas todas as diferentes características e propriedades dos componentes; pois são elas que possibilitam as trocas educadoras, entre as formas e as dores, as cores e as idades que trazem dos tempos diferentes a cura para as incertezas dos jovens enamorados; e as jovens dúvidas sobre enteiadas certezas, daqueles que, nesta trilha, já caminharam mais. Porque em essência e supra-sumo o ser humano é energia pura que desconhece e nega o tempo. Que os Seres se atraem não por idades, mas por afinidades, porque somos de energia eterna. Que o que nos atrai é a capacidade que um tem de suprir as de Amor necessidades do outro, o adorando como a um símbolo sagrado que apenas se beija. Que os toques devem ser apenas para permitir o sentir e o acariciar, sem outra transformação que não seja a da excitação. Que são mandamentos o respeito às liberdades de escolhas, o encantamento com os pequenos defeitos e o movimentar-se, permanentemente, para bem encaixar as qualidades de um nos espaços do outro.

Isto é que é o amor, isto é que é amar de verdade, esta é a forma da Felicidade, que possibilita os sepultamentos de caixões vazios e a morte do adeus.

Aldo Urruth
Enviado por Aldo Urruth em 14/05/2009
Reeditado em 14/04/2015
Código do texto: T1592911
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