O TEMPO FOGE

Ao procurares congeminar imagem e palavra, não tenhas pressa com relação aos textos. Eles andam placidamente, são lerdos e displicentes, porque não são do lugar comum da vida. São alheios, bastardos de nós. Por certo gostam desta vistosa vestimenta que lhes estás a dar. Eles esperarão pacienciosamente, porque estás fazendo arte, brincando com o cinzel plástico da modernidade. Tudo anda no sentido da urgência nas relações da vida, os seus atos e fatos. Na contemporaneidade o tempo é ágil, mais do que nunca. Inclui os conversadores e a palavra aparentemente deitada sobre a folha de papel ou empinada no monitor do computador. A pressa sempre me pareceu o enfrentamento prático da idéia de que a vida é curta. A obra terá tempo pra viver muito além de seu autor. A morte vem pra todos. Chega e se abanca sem contemplação. O hálito das palavras denuncia incompreendidos humores... Sem mesuras ou desdéns.

– Do LIVRO DOS AFETOS, 2005/2012.

http://www.recantodasletras.com.br/prosapoetica/1589836