Sabores

Manhã. Acordo.

A boca, o gosto amargo do que fora felicidade ontem.

Minha língua fica imóvel, amuada contemplando o pensamento.

Abro os olhos e a penumbra tem o sabor ácido de o que vem sendo a vida hoje.

Na cabeça, o gosto amarelo do turbilhão do mesclado entre lembrança e criação. O gosto almiscarado do sonho que nunca se torna real.

No corpo, como um todo, o sabor áspero da vergonha apimentado com ira e reprovação.

Coração mergulha num gosto silente de melancolia.

Mas a mente perdeu o gosto de morte...

Na alma um sabor horrível.

Sabor d'água.

Sabor de terra.

A rijeza de uma pedra.

Um glacial toque.

Insosso.

Insípido.

Terrível sabor de ter feito mais do que podia.

Mais do que devia.

Mais do que queria.

O sabor simples de um não.

Amo.

E tu não ligas.