Eu estava morta

Eu estava morta. E naquele dia eu te contemplei. Contemplei um homem que no interior de si respirava o escuro nas suas enormes asas alvas. Um homem que dentro das suas penas era a noite. Aquela noite de onde jamais voltarei. Aquela noite onde eu contornava no céu como nuvens muito negras. Nuvens que respiram o firmamento antes da noite. Nuvens que morriam uma a uma. Quando meus sentimentos não paravam de morrer dentro da minha escuridão cavada no pavor do meu quarto. Não paravamm de morrer e moviam-se de um lado para o outro no interior de mim tecendo o tempo dos dias da memória e do meu infortúnio. Depois da chuva. Daquela chuva de que morri. Deslocando-se. Sofrendo na luz do meu quarto. Porque morreram como as amendoeiras no interior das crianças erguidas nas frutas. E no solo destruído. Dentro de tenuíssimas partículas de terra. Daquele diminuto brilho dos meus olhos. Abandonados. No ritmo de permanecer em silêncio. No ritmo dos meus olhos. Que se extinguiram desmanchados. Abandonados à chama. E sem ninguém os ler.

Tatiane Gorska
Enviado por Tatiane Gorska em 12/05/2009
Código do texto: T1588947
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.