manacá

Manacá

Soprava o vento de outono,trazendo a sensação de um frio que nos deixava um tanto indefesos,

Folhas soltas flutuavam,adiando o contato com o solo,como que procurassem sua irmãnzinha de galho que,também

desprendera-se da arvore mãe.

Percebi, então, que a abelhinha melífera pousara sobre a flor de manacá.Isolada, e com as asas rotas, afastara-se do

grupo, pois, picada pela vespa azul, sua pior inimiga, sentiu a pré ciência de sua morte.Auscultei a alminha

daquele pequeno inseto e ouvi a voz do eterno se manifestar:”Meu caro amigo, suguei os mais deliciosos sumos

desde, as mais exuberantes flores ,até os dos humildes pajurá da mata e da flor da mangaba.Em todos , saboreei

A doçura da vida.Quizera, um dia , ter provado da real geléia de minha rainha, mas, cabia, tão somente, fabricar com todo o amor o precioso mel, alimento puro de muitos...

Hoje , sobre estas roxas flores de manacá, sinto que minha viagem está por teminar.Quando estas pétalas empalidecerem, soltando o aroma , cujo perfume incensa a natureza, terei partido, oferecendo meu corpinho as

amigas cortadeiras.”Por alguns segundos, refleti na sabedoria daquele pequeno ser, que deu sua vidinha em prol

da comunidade e que não querendo ser estorvo, afasta-se, anonimamente, de seu mundo.Imagino quantos segredos

a ela foram depositados, ao penetrar o íntimo de uma flor.O que lhe terá confiado a margarida rasteira, cujo único sonho seria beijar o elegante jacinto azul ?E camélia , flor da covardia que ao sentir seu ocaso, não despetala, mas, simplesmente, murcha,impedindo que seu néctar seja sorvido.

"Amiga moribunda que já ouves o canto quimérico do desapego, agradeço por este curto momento em que a vejo"

Encerrar seu ciclo de labores benfazejos, apesar de, cansativos.

Entendo , agora ,que minha vida , também é um longo provar de sumos,sabores dulcíssimos quantos aos das mais

Belas entidades em explosão multicor, mas, tambem, o fel crudelíssimo de um pajurá da mata, mas que tenho, também por

destino , transubstanciar no mel mais saboroso que alimentará ao meu ignoto semelhante.

Um dia, ao ser picado pela vespa azul da morte, que eu tenha a pré ciência dos cisnes que embelezam o canto, e, de você

amiguinha fortuita.Muito obrigado!!

Cerrei, respeitosamente, os olhos para velar o sono da agonizante.

Súbito, um intenso aroma da flor de manacá invadiu o ambiente, e mais surpreso fiquei ao deparar com a mudança

na tonalidade de suas flores que de roxo azuladas...embranqueceram.

O corpinho inerte da abelhinha rolou ao encontro do solo,onde as formigas doceiras aguardavam pacientemente...