Noutros dias

Noutros dias os panos dormiam sorrindo pela cozinha. Quando o tempo passa. O mais recente. O coração feito folha, lisa tão lisa que o sangue o abisma quando sem movimento a tarde se desprende caindo aos cachos de luz e fruto para o ponto central de si. Na realidade. Na realidade eu não sei claramente o que se passa. Quando as paredes feitas de chama e cristais de gelo me reproduzem a claridade e eu. De mim. Desagrego imagens. Imagens no claro timbre de uma água rumorosa junto à melodia da fadiga e de uma mortalidade imunda. Porque todos os dias venho ao lar muito tarde, amor. Com uma depressão vazia na minha face. A depressão que tu não enxergas. Um buraco de sossego desprovido de princípio. Na água. Entre o olhar e as mãos. entre o gesto. No corpo inteiro do amor. Com uma espécie de morte que se confunde com a roupa, com as telhas desviadas para o fundo da poeira macia e lustrosa como o cetim das vias públicas. Que dormem. Porque eu. Porque na dor dos dias não me lembro do colorido. O coração. Do amor silencioso. Do amor de dedos sem brilho pelo cabelo. Pelo tempo. Em direção à instituição de ensino. Quando os panos dormem. No pêlo suave dos homens. No ruído. Da cozinha. Na imagem. Da roupa. Adormecida sobre a varanda. No felídeo. Constituído de nuvens. Submergindo, brilhante, a cúpula cálida e circular daqueles dias. Que sorriam. Indo ao chão.

Tatiane Gorska
Enviado por Tatiane Gorska em 10/05/2009
Código do texto: T1585917
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