Que importa?
que importa existir? posso existir como uma pluma ao vento sob o sol e sobre os prados, tão só e perdida a vagar em busca de uma única gota de orvalho a fim de não ser soprada para fora do mundo e completamente esquecida após alguns instantes sem antes se ter embevecido de um lapso fino de vida...
que importa a compreensão? estamos sempre em desacordo e o que sinto não faz o menor sentido nem tem importância a qualquer humano que jamais compreende o outro... sigo amarrada e envolta em papel-filme que me barra e limita o contato com meus pares, invisível, incognoscível e incompreensível para sempre...
que importa, enfim, que me estenda sobre as horas e as desdobre sem telos, sem motivo, pisando sobre a fina e frágil camada pulsante prestes a se acabar a todo instante, inconsciente dos perigos que me cercam, sem temor das dores, das quedas, de que mãos alheias possam me machucar?
a vida há e não a alcançarei, eu me ultrapasso, corro tanto à minha frente que sei, e não alcanço... esvaímo-nos, como ovos que se quebram - eu os quebrei, perdão, e a gema escorre viscosa por entre os dedos, minha única culpa foi a de estar viva em carne e sangue humano...