Acréscimos e desenganos

Acréscimos e desenganos

Meus vasos ainda restam na janela,

Algumas flores esmaeceram, noutras uma solitária abelha faz incessante ronda...

Pensei em regar.

No verão secam os verdes, por vezes abro a janela à espera dum gotejar, e esvai-se o dia.

Meus potes abrigam uns raros dedos de água.

Guardo para quando a madrugada chegar assolada pelo calor que me faz encharcar o roto lençol, revirar na cama e revolve-me as entranhas.

Acho que tenho febre.

Os infecundos rios aparentam uma aridez imperturbável que aniquila meu interior.

Deixei para trás confortáveis alcovas arejadas,

Elas deixaram que eu me fosse,

Houve luzes e candelabros, baixelas e sutilezas,

Era um tempo de água em profusão,

Molhava, banhava, fruíam rios plenos e navegáveis,

Reconheço que o tempo reparte-se entre acréscimos e desfazimentos,

Hoje sei reminiscência, resta-me a cor do delicado beija-flor,

Resquícios de memórias, água límpida, verde lustroso, são atrevimentos que ficaram para trás.

Acomodo-me com a pequena abelha que persevera em reviver o que no vaso sobeja.

Líquidos são suores e lágrimas.

Publicado em Poesia " on-line", mote para o dia 06/05/09 " Perdas e ganhos"

Roseane Namastê
Enviado por Roseane Namastê em 06/05/2009
Código do texto: T1578671
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