ETERNOS
ETERNOS
Meu lápis desliza por linhas retas, absurdamente iguais. Aos poucos, as letras se aglomeram a adquirem uma força descomunal. A força da palavra. Sinto-me crescer ao usar um instrumento tão forte,tão completo, mas, ao mesmo tempo, tão perigoso. Podem transmitir, desde a docilidade de um poema, a uma sentença de morte.
Desde sonhos, receitas de curas, declarações, ou então, simples devaneios.
Devaneios...devanear com o dia de ontem, que inexoravelmente se juntou ao meu passado. A tão poucas horas, ele era presente, vivo, palpável, real. E, apenas, pela simples razão de um reles ponteiro de relógio resistir em parar, ele foi relegado ao triste posto de passado. E, se foi...Se uniu a tantos outros somando a aumentando uma enormidade de dias, vividos, bem vividos, às vezes, nem tanto...
Pensar em números, datas, estatísticas, espectativa de vida, tudo assusta, empalidece. E, lembrar que muitos dias já escorreram entre meus dedos, lentos, as horas eram lentas, eu, era lenta. Com o passar do tempo, e, como passou rápido, os dias, os anos se aceleram, correm céleres, desaparecem a olhos vistos. E, o passado vai crescendo, crescendo, ficando cada vez maior, o presente cada vez mais presente, e o futuro diminuindo...diminuindo...diminuindo.
O viver, o saber viver, o poder viver, adquire força, qualidade, vontade, sede. Às vezes a nostalgia nos leva a viagens ao passado, relembramos fatos, pessoas, lugares que a cada dia que passa vão se apagando, esmaecendo, até desaparecerem por completo. Tudo, todos, embotam, viram números.
O corpo já não obedece prontamente ao nosso comando, mas nosso coração continua batendo, sentindo, sofrendo, amando, e, não se dá conta que não somos os mesmos.
E, caminhamos rápidamente. Evitamos olhar pra trás, comemos nossos dias de maneira ávida, gulosa, como quem come o último quinhão. Mas, ainda restam alguns dias, talvez o bastante para que consigamos realizar um pouco mais de nossos sonhos secretos, viver nossos amores desconhecidos,escondidos, realizar nossas fantasias, esquecer dores e desamores e viver como se fôssemos eternos.