PROSTITUTOS OLHARES

Ainda não foi desta vez que a boca cuspiu a saliva nem as vísceras gelatinosas.
Só mais um pouco – mais um pouco e a turbulência das coisas obscenas se aglutinam em forma de cuspe e então – lá vem o escarro – certeiro!
Ninguém vê direito através do vidro das janelas dos bares e botequins. Ninguém vê a cor do cuspe no canto da boca, nem o resto de batom barato, que contorna os lábios escancarados das prostitutas de plantão. Elas têm lábios?!
Onde ficam os verdadeiros lábios das prostitutas que cospem a sua presença assediando o pensamento encarquilhado dos velhos?!
Agora há pouco, uma sirene assustou as bocas (arquibancadas de andarilhos) e os olhares se compromissaram. Quem viria a seguir?! Um garçom nu? Um advogado vestindo uma beca vermelha? Uma outra prostituta?! Não. Os passos na calçada, são dissimulados e espremidos nas coxas, como passos de moça virgem e "ansiosa das coisas". As outras, cospem no chão e bafejam no vidro, enquanto tentam ver a moça solitária com seus livros embaixo do braço. É só uma moça pisando leve com seus saltos altos e finos.
As bocas de lábios verdadeiros e caras de lua cheia, se esparramam coladas no vidro encardido e observam. Observam! Temem por estapafúrdia existência enquanto olham, e, escutam os passos lá fora. A obscenidade de cada pensamento entreabre a boca dos homens, fazendo com que suas mãos, direita ou esquerda, desçam para o meio das suas pernas e os façam machos donos de uma virilidade sem sentido. O cuspe escorre no canto das bocas e os olhares, descendo a ladeira das coxas espremidas e úmidas, vão até o chão onde "eles"- os sapatos vermelhos , se manifestam decidindo o rumo e a razão.
Os sapatos vermelhos e uma moça de olhos cor de mel, atravessam o imaginário das prostitutas cheirando a naftalina e escorregam na alucinação dos homens forçando a saliva grossa de encontro aos lábios finos.
A noite em alguns lugares é assim...
Luciah Lopez
Enviado por Luciah Lopez em 30/04/2009
Reeditado em 17/12/2020
Código do texto: T1568763
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