Eu, Fausto...

O Inobjetivo, que nos une, o Objetivo, que nos desune. A Essência, livre do Sensível e do Inteligível.

Como muitas águas conglutinando-se no centro incolor da Mente e do Mundo.

A Luz cansada conservada no silêncio do sono como num cristal.

A mente monótona do Tempo pulsa:

Não há momentos.

Só o que um transporta ao seguinte...

No horizonte das trevas

No semblante do fogo

No intervalo entre uma cor e outra cor

Talvez a lua viesse e expulsasse as nuvens, deixando apenas um mortal mutismo dizendo "eu penso...eu sou..."

A floresta

A estrela

No sonho onde a Natura se bifurca, o Nada constrói seus castelos.

Observe a obra, sem nenhum lustro, de deuses e homens e anjos e considere a vaidade de todo o conhecer- sabendo

que há tempo para tudo sob o sol.

Tempo para plantar e colher

Tempo para rasgar e coser

Tempo de nascer e morrer

Observe a sabedoria do que se ausenta e crê no pensamento especialíssimo do 'cuidar do seu próprio jardim' e assiste

a tormenta se formar, com a cor de cinzas de flores...

Eu vi que tudo isso era vaidade. A Sabedoria convidou-me a governar o mundo.

Eu ergui minha mão sobre o todo como o tolo que lê um livro e tenta afugentar o anjo da morte.

Há névoas e névoas entre a minha consciência e a consciência do universo. Na superfície do espelho o que concerne

ao objeto e o que à imagem?

Transformamos espadas em relhas de arado quando o segredo tira o véu notígeno.

O que a compreensão firma o instante destrói.

Os homens sábios imperam com o cetro da dúvida.

Crer é cortar o fio de uma vida, como as Moiras.

...

Tentei mentar o incompreensível e achei isto: um Letes onde tudo conflui e cujas margens abrigam o corpo

plasmoptisado dos afogados.

O segredo jaz no que cedo virá

Luz ou treva nada

Cedo.

Eu, Fausto, vi a Primeira Mente.

A Mãe das Dores.

A Colheita.

Na sucessão de luz e de trevas, onde está a verdade?

Resposta: na sucessão de luz e de trevas. Na linha que divide os momentos. No intersubjetivo que há entre o

presente e o passado.

Pensamento é catarse.

Não há nada no conhecimento absoluto e tudo é igual à Mente.

Tenha uma e seja dono de seu mundo.

Tenha todas e seja senhor dos infinitos mundos.

A certeza, portanto, está em cada momento. Nas nuvens que se diluem o tempo passa. Julgamos que o Intangível é

nossa meta! Mais intangível, porém, é o Tangível, a tocha que um instante passa ao seguinte...

Como ter todas as mentes?

Como atravessar a Infinita Vertigem?

Flores osmóticas povoam o pântano do pensamento, e em toda a sua orla há desejo.

é tudo um mrito órfico isto que chamamos de sabedoria. São numes e devas que exigem admiradores, não bem ou mal essencialmente puros-

estes não existem, ou, se existem, estão ocultos.

Oculto está o que cedo virá.

Flores osmóticas com raízes no uno.

Numa lucerna da verdade eu me encontro, e vejo que lá embaixo há sujeito, não objeto, virtude, não cegueira... e

que o cego fui eu. Centramos nossa visão num éden intocado, e caminhamos rumo a ele!

Tão reais como raios refratados são a alma e o mundo. Exclua-os e se juntarão no mesmo eterno querer.

Abrigue-os e tenha a dúvida do instante.

Que há além da floresta da ilusão? Outra floresta.

Eu, Fausto, subi a escada dos possíveis, e, enquanto subia, a certeza descia ao mundo... alheio a este esplendor- o da

minha busca, vi que à frente outro primor crescia:

Como um anjo de Jacó encontrei o gelo eterno de uma nova certeza, sem saber que o que em nome do conhecimento

deixara, pelo Nome renascia.

Pensamos percorrer um raio do círculo, e só obedecemos o limite, a borda onipresente!

Mas, enquanto corremos, a borda se torna um ponto, e vemos...

Que do lugar não saímos...

Filicio Albara
Enviado por Filicio Albara em 30/04/2009
Código do texto: T1567827
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.