DE VOLTA AO PASSADO

DE VOLTA AO PASSADO

A manhã apodreceu, a tarde, apodreceu...restou a noite com seus sabores e odores acentuados pela proximidade do fim. A luz é tênue, mas, alumia. O odor vem da vida resgatada, esperada, não vivida. Mas, acontece o resgate de um sonho, prenunciado e anunciado. Uma volta aos lugares, caminhados ao amanhecer, agora recaminhados ao anoitecer. Volta pelas pegadas que resistiram ao tempo, encontros e desencontros. Volta para rever cantos e recantos, sentir emoções que não morreram apesar da pele enrrugada e dos cabelos brancos. A alma continua intacta, o amor, intacto, os versos, resistiram.

E, adolescemos juntos, rimos do tudo ou do nada, do quase nada. No escuro, colhemos paqueviras, pra que viras? Paramos em qualquer beira, por qualquer coisa, ou, por nada. Sentimos o mar, nos banhamos à luz da lua, como, se fosse a primeira vez. Estendemos as maõs em concha à cata de mangabas e nos inebriamos com o cheiro dos cajueiros em flor.

Só então entendemos que precisamos viver o muito ou pouco que nos resta, mas que teremos uma enormidade de instantes a serem vividos, bem vividos, uma enormidade de caminhos a serem percorridos,uma enormidade de afetos a serem cultivados, e, por isso, aquí estamos.